A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições brasileiras de 2018 ainda não foi compreendida pela maioria da esquerda nacional. Ligado às Forças Armadas, admirador de torturadores e dono de um discurso explicitamente agressivo contra negros, mulheres, homossexuais e pobres, Bolsonaro reúne tudo o que há de mais desprezível; contudo, conseguiu, derrotar eleitoralmente o candidato de um dos maiores partidos de esquerda do mundo.
As explicações que a burguesia e a esquerda pequeno-burguesa procuraram dar para a vitória de Bolsonaro foram várias, embora nenhuma seja verdadeira. Em todas as explicações, Bolsonaro é apresentado como um ser humano especialmente nefasto – uma espécie de demônio – que conseguiu enganar tudo e a todos e impor uma vitória sobre a “democracia”. No entanto, a coisa não é bem assim.
A vitória de Bolsonaro não é a vitória do candidato Bolsonaro, mas sim da burguesia de conjunto. Os mesmos setores que vêm participando há séculos do regime político, como Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, a Folha de S. Paulo e a Rede Globo, foram os responsáveis por levar Bolsonaro ao poder. Afinal, diante do completo desgaste do governo golpista de Michel Temer e dos governos tucanos em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, era necessário apresentar um candidato que aparentasse ser “de fora” do regime político.
Esse tipo de acontecimento não é único na História, não se trata de uma exceção, mas sim de uma regra. Toda vez que a burguesia “democrática”, que sempre se mostrou disposta a atuar pelas “instituições”, se vê ameaçada de perder o controle do regime político, esta impulsiona, financia e apoia governos que possam exercer um maior controle sobre a população – mesmo que seja da maneira mais antidemocrática possível.
O nazismo, que é hipocritamente criticado pela burguesia “democrática” internacional, foi apoiado por ela durante longo período. Embora a imprensa burguesa faça hoje tímidas críticas ao nazismo e seu “autoritarismo”, esta apoiou o governo hitlerista no ápice de suas maiores atrocidades contra a classe operária alemã. Em 1938, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, a revista Time elegeu Hitler como “homem do ano”.
Em 1936, por exemplo, Berlim sediou os Jogos Olímpicos, que contaram com a participação de todos os países, exceto a União Soviética. Na época, não houve qualquer boicote da burguesia “democrática” internacional – enquanto a Copa do Mundo da Rússia de 2018 correu sérios riscos de não acontecer porque os “democratas” que apoiaram Hitler tentam sabotar sistematicamente o governo russo, eleito por mais de 70% da população.
Os industriais e banqueiros de todos os países imperialistas – que se autodeclaram “democráticos” – também apoiaram o nazismo. Henry Ford, um dos industriais mais importantes de seu tempo, apoiou abertamente Adolf Hitler, tendo inclusive recebido da mão deste a Ordem de Mérito da Água Alemã, em 1938.
O apoio da burguesia “democrática” internacional será um dos assuntos discutidos na 43ª Universidade de Férias do PCO, que acontecerá em janeiro de 2019. Participe de mais esse evento de fundamental importância para a formação marxista!