O chamado identitarismo tem aparecido como uma ideologia cada vez mais hostil à luta de classes e ao próprio marxismo. A ideia predominante, embora haja muitos tipos de identitarismo, é a de que a opressão contra os negros e mulheres se sobressai à opressão de classe.
Debates recentes colocaram inclusive o marxismo como uma “ideologia europeia”, o que significa que ela não serviria como instrumento de luta dos negros ou das mulheres simplesmente porque supostamente teria uma visão de mundo que não deveria ser adotado por povos “não europeus”.
Mais absurda ainda é a ideia de que a opressão do negro e da mulher seria mais importante do que a opressão de classe, ou seja, se levada até as últimas consequências um operário branco seria menos oprimido do que um capitalista negro. Embora absurda, tal ideia é constantemente apresentada e tem servido para justificar debates como o que ocorreu recentemente envolvendo a filósofa Djamila Ribeiro, que justificou sua atuação como garota-propaganda de grandes empresas capitalistas.
Esse debate tem tomado vários caminhos e não caberia citar todos nesse artigo. É preciso ressaltar, no entanto, que o destaque recebido pelas ideologias identitárias é resultado da política da burguesia, que as impulsiona com o objetivo de criar uma confusão nos meios da esquerda pequeno-burguesa e acadêmica.
Foi publicada no sítio Brasil 247 uma artigo intitulado “Exu e Marx precisam se deglutir”, assinado por Pedro Simonard, no qual o autor procura defender que identitários e marxistas devem dar as mãos e procurar uma política comum: “As duas questões precisariam caminhar juntas, concomitantes. Não é mais plausível exigir que grupos subalternizados, não hegemônicos tenham paciência porque um dia, sabe-se lá quando, a revolução socialista virá e resolverá todos os problemas étnicos, raciais e de gênero. Quem sofre discriminações e violências cotidianamente demanda soluções urgentes.”
Ao tentar juntar as duas concepções de mundo, o autor parte de um princípio errado. Para ele, o identitarismo como ideologia seria a luta e a defesa dos direitos dos setores oprimidos da sociedade. Tal afirmação está muito longe da realidade.
A chamada ideologia identitária não é a defesa dos direitos dos setores oprimidos da sociedade. Os direitos democráticos dos negros e das mulheres são secundários para os identitários. Para eles, o central não é a luta concreta por esses direitos, mas uma “luta” cultural. Por isso, os identitários privilegiam a linguagem, por exemplo. Para eles, mais importante do que a mulher garantir o direito ao aborto ou às creches é a mudança na linguagem e na cultura.
Vem dessa concepção a chamada “cultura do cancelamento” como um dos principais métodos de ação dos identitários. Para eles, é preciso impedir ou repreender uma pessoa pelo que ela falou ou até mesmo pensou. É, portanto, uma ideologia de tipo liberal, conservadora e reacionária, mesmo que parte dos identitários possa sequer ter consciência disso.
Essa ideia de que a mudança deve se dar na cultura e na linguagem está justamente relacionada com a aversão desses setores ao marxismo. Para os socialistas, a luta dos oprimidos é uma luta prática, por direitos democráticos, políticos e econômicos. Nesse sentido, não é verdade que os marxistas defendem esperar a revolução socialista para que “todos os problemas étnicos, raciais e de gênero” sejam resolvidos, como diz o autor.
Os socialistas sempre entenderam a luta da mulher, dos negros e demais grupos oprimidos como uma luta à parte, com suas próprias reivindicações. Portanto, os marxistas não pedem que os negros esperem pela revolução para agir. Essa ideia é uma deturpação do que defendem os marxistas.
Mas os marxistas dizem claramente para todos os setores explorados que a libertação definitiva não apenas dos negros, das mulheres etc mas de toda a humanidade só poderá vir por meio do socialismo. Os grupos oprimidos devem lutar por conquistas materiais dentro do capitalismo, que são importantes e inclusive pavimentam o caminho para a revolução, mas essas conquistas, por si só, são insuficientes. Não afirmar isso claramente é enganar o povo.
Por isso, o caminho mais seguro para a resolução dos problemas de todos os setores oprimidos é a unidade com a classe operária, porque é a classe operária, em aliança com outras classes e grupos sociais, capaz de colocar abaixo o capitalismo. Portanto, para a libertação definitiva da humanidade é preciso a revolução e para se chegar à revolução é preciso desenvolver a luta de classes.