Diversos acontecimentos nos últimos dias deixaram claro que a situação do governo Bolsonaro já é insustentável ou pelo menos beira o insustentável.
A crise interna em que se degladiam as diferentes alas de extrema-direita, não dão sinal de arrefecimento. A saia curta com que Bolsonaro deixou Moro a respeito das negociações para sua nomeação ao STF, bem como os ataques do centrão para retirar o Coaf das mãos de Moro, são derrotas da ala bolsonarista, o aparente armísticio entre o “guru” Olavo de Carvalho e os militares, apenas aponta que o grau de combustão chegou a tal ponto, que a explosão era uma condição iminente, e que não vai ser resolvida pelo silêncio.
O mais significativo, no entanto, foi a carta publicada pelo próprio Bolsonaro, onde mostra sua dificuldade para governar o país.
Quando um presidente chega a esse ponto, significa uma crise de grandes proporções do regime político e com um desdobramento da situação, ainda nebuloso. Em todo caso, a própria imprensa burguesa e golpista já começa a apontar semelhanças entre Collor de Mello e Bolsonaro, inclusive relacionando as manifestações convocadas pela extrema-direita no dia 26 de maio, com o desfecho do chamado de Collor para que todos fossem as ruas de “branco” apoiar o governo. As mobilizações foram um fiasco e o que se viu no momento seguinte foi o crescimento exponencial das manifestações pela sua derrubada.
O governo está a deriva, literalmentete boiando, sem motor, sem vela, sem vento, sem nada. É por isso que as mobilizações gigantescas por todo o país no dia 15 de maio colocou definitavamente na pauta a liquidação do governo.
A instabilidade e crise do regime político produto do golpe de Estado colocou na lona todos os partidos políticos que dominam o regime político. Daí foi que surgiu o “fenômeno” Bolsonaro, justamente por ser o único setor da direita que permaneceu com uma base social, pequena, mas significativa diante da derrubada dos políticos e partidos tradicionais.
Se a instabilidade do governo foi tratada até agora pelos próprios golpistas considerando essa base social de Bolsonaro, as manifestações do dia 15 deitaram por terra essa consideração. De nada adianta uma certa base social diante do profundo repúdio popular expresso nas manifestações.
Ter um governo impopular, mas que não tem manifestações ativas é até possível. Collor conseguiu se manter assim por um período, mas bastou a eclosão do movimento e a direita foi obrigada a remover Collor e colocar seu vice com o impeachment.
A chave do problema para a próxima etapa é como será a evolução das mobilizações sociais e a política da esquerda diante delas. Faz tempo que a população ensaia sair às ruas. Houve o carnaval, sucessivos atos nesse primeiro semestre, e finalmente o dia 15 de maio, que serviu como uma faísca para detonar a luta aberta pelo pelo “Fora Bolsonaro” .
Os trabalhadores e a juventude já ultrapassaram a fase da timidez, procuram agora ampliar o rombo inicial na casca do golpe proporcionado pelo dia 15 de maio. O dia 15 foi a demonstração que as pautas específicas podem e devem ser unificadas como ponto de apoio a luta para por abaixo o regime golpista.
Um mínimo de sinal de vitalidade, de energia, para defender o Fora Bolsonaro, é o que o movimento espera da esquerda, condição necessária para fazer crescer as manifestações.
