O acirramento das lutas no interior do Judiciário – confrontando setores do Supremo Tribunal Federal (STF) -, bem como entre as diversas alas do governo improvisado de Bolsonaro e também no Congresso Nacional, onde a oposição e setores do “centrão” entraram em atrito e derrotaram parcialmente o governo em mais de uma oportunidade, obstaculizando o andamento da “reforma” da Previdência; são impulsionadas pelo enorme agravamento da crise econômica e expressam a tendência à polarização política no País.
Ao mesmo tempo, cresce enormemente a ação repressiva do Estado e dos setores da direita paraestatal contra os explorados, como se vê na matança nas periferias das grandes cidades, na perseguição e extermínio de sem terras, indígenas etc. Um dado expressivo é o aumento de quase 20% dos assassinatos realizados por policiais em 2018, que somaram mais de 6.160, em todo o País.
Bolsonaro se mostra, ao mesmo tempo, como um governo muito fraco, mas também muito ameaçador para a população. A estabilização do governo (defendida, até mesmo por setores da esquerda burguesa), representaria um enorme perigo, podendo levar ao agravamento de toda essa onda repressiva e de ataque às condições de vida e trabalho da imensa maioria da população e contra as organizações de luta dos explorados.
Suas declarações não deixam dúvida sobre isso. Por exemplo, quando ameaça os sem terra e sua principal organização nacional o MST, sinalizando para um completo esmagamento da luta do campo, que não se realiza, nesse momento, por falta de condições políticas para tal. Da mesma forma, toma medidas (como o corte de recursos dos sindicatos) e faz ameaças, por contra as organizações sindicais.
Diante desse quadro perigoso, a esquerda confere legitimidade ao governo nascido de um processo fraudulento que impediu Lula, ilegalmente, de participar das eleições, nas quais era favorito para vencer. E se recusa a defender o “fora Bolsonaro”, mesmo com a crescente tendência de revolta popular contra o governo. E se divide – sob a pressão de suas alas mais direitistas – diante da tarefa central de realizar uma campanha de massas em favor da liberdade de Lula.
É preciso se opor à essa política que facilita a evolução da situação em um sentido abertamente ditatorial, fascista, dando margem a que o governo se recomponha e avance sobre os explorados e suas organizações e debater um programa claro de organização independente dos trabalhadores em comitês de luta contra o golpe e pela liberdade de Lula, que precisam ser multiplicados e de mobilização sob a base de eixos claros que se oponham ao regime golpista, como a defesa da liberdade de Lula e de todos os presos políticos e a luta por colocar para fora Bolsonaro e todos os golpistas.
O movimento de luta dos trabalhadores não pode ser colocado em compasso de espera, ou de modo algum colocar suas expectativas nos acordos no Congresso Nacional ou decisões do judiciário, que comprovaram à exaustão que são túmulos para as reivindicações populares e democráticas.