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Frente com a direita

O “gato” é um rato ainda mais nocivo que o que se quer matar

Levar a esquerda a apoiar candidatura da direita golpista é o verdadeiro eixo da frente ampla

Em artigo intitulado Contra Bolsonaro, não importa a cor do gato do jornalista e secretário da Casa Civil do DF, Hélio Doyle, publicado no sítio Brasil 247, apresenta de maneira explícita a política de frente ampla, através da noção de que seria preciso se juntar inclusive com os inimigos dos trabalhadores em nome da “derrota de Bolsonaro”. Como o próprio título do artigo indica, “não importa a cor do gato”, a orientação sugerida por Doyle é aceitar qualquer um que se declare “contra Bolsonaro”, mesmo setores da burguesia golpista.

O “critério” é não ter critério de classe, ou melhor, aceitar como critério de classe a junção das classes antagônicas, desde que seja “contra Bolsonaro”. Na verdade, o articulista está propondo que a esquerda fique à reboque da burguesia. Que o movimento operário fique à reboque de seus exploradores. “A contradição principal que temos hoje é entre a democracia e o bolsonarismo. Entre civilização e barbárie (grifo nosso)”. Ou seja, para o articulista, os que se apresentam supostamente contra Bolsonaro, como Doria, Witzel, Paes, seriam “democratas” e “civilizados”.

Essa política tem levado os trabalhadores a ficarem reféns da direita, inclusive da extrema-direita disfarçada de “democrática” como Doria, que foi eleito no mesmo esquema fraudulento que elegeu Bolsonaro. Nunca é demais lembrar da campanha casada do “Bolsodoria” de 2018, na qual o governador de São Paulo fazia propagandas simplesmente nazistas contra a esquerda, o PT, o MST e os sindicatos.

Entretanto, para Hélio Doyle “ser de esquerda” é tão somente ser anti-Bolsonaro, o que significa que as contradições de classes, a luta por um programa com as reivindicações dos trabalhadores e dos explorados não tem importância, e tudo que distingue a esquerda da direita, e que tudo que representa os interesses dos trabalhadores deve simplesmente ser deixado de lado, abandonado em nome de que a “contradição principal é ser contra Bolsonaro”.

“Se a contradição principal da esquerda hoje é com o bolsonarismo e a ameaça fascista que representa e se a tarefa principal é derrotar Bolsonaro em 2022 (se não for possível antes), o caminho para os partidos de esquerda parece claro: aliar-se ao candidato da direita que assuma claramente uma postura contra Bolsonaro e, adicionalmente, se comprometa a assegurar espaços políticos aos partidos de esquerda”, escreve.

Durante todo o ano 2016, os partidos do centro, tradicionais da burguesia, colocaram em marcha uma política que consistia exatamente em fechar os espaços da esquerda, através da perseguição do PT, para derrubar de maneira golpista o governo Dilma Rousseff e posteriormente impedir que o ex-presidente Lula pudesse concorrer nas eleições presidenciais controladas pelos próprios golpistas. Evidentemente, que o então deputado Jair Bolsonaro, e os setores da extrema direita, integraram a unidade das forças reacionárias para dar o golpe de Estado contra o governo Dilma, e posteriormente encarcerar Lula, mas é preciso colocar de maneira  clara que o setor fundamental de toda essa operação foi exatamente o centro político tradicional, uma parte inclusive atuando por dentro do governo Dilma, como o PMDB do vice-presidente Michel Temer, e outra na oposição no Congresso Nacional, como DEM e PSDB, além de outros partidos fisiológicos que formam o chamado centrão.

Como se vê é tão somente uma fábula conveniente apresentar um candidato de direita como uma alternativa progressista ao bolsonarismo, e ainda mais afirmar que a esquerda teria um “espaço político” assegurada por este centro golpista. Na verdade, a política de frente ampla, constituída através do apoio de um candidato da direita de “oposição” a Bolsonaro pela esquerda, representa uma operação de resgate dos partidos da direita desmoralizados politicamente por atacar ferozmente os direitos democráticos e sociais da população. Apoiar uma candidatura da direita em nome da “oposição ao bolsonarismo” significa apoiar os setores responsáveis pelo golpe, e neste sentido pelo próprio Bolsonaro, e seus ataques contra as reivindicações dos trabalhadores.

Apoiar uma candidatura da direita da “oposição”, por outro lado representa o inverso do que se propõe, ou seja, significa reforçar a extrema direita, uma vez que aos olhos do povo, os partidos de esquerda estariam se comprometendo com os setores tradicionais do regime político, os setores marcados como grandes operadores das piores desgraças contra o povo, especialmente contra os direitos dos trabalhadores. Além de alimentar uma farsa, uma falsa ilusão de que votando em candidatos da direita, a população teria suas reivindicações atendidas e que estes setores seriam melhores do que Bolsonaro, a esquerda estaria assimilando a rejeição popular às quadrilhas políticas tradicionais.

Além disso, Hélio Doyle faz uma crítica indireta e inconsistente à esquerda classista:

“Já os ‘esquerdistas’ se opõem a qualquer aliança com direitistas, mesmo se for para impedir os avanços bolsonaristas no Congresso e desgastá-lo até 2022. Alegam que são todos golpistas, neoliberais, defensores de medidas contra o povo e os trabalhadores — e nisso estão certos. Mas com essa postura deixam de lado o principal, que é o fim do poder de Bolsonaro. Porque entre os golpistas, neoliberais e defensores de medidas contra o povo e os trabalhadores, estão os adversários de Bolsonaro que querem vê-lo fora da presidência. E nisso coincidem com o que quer a esquerda.”

Esta abordagem do autor reconhece que as direitas “opositoras” não são flor que se cheire, pois a crítica de que  “são todos golpistas, neoliberais, defensores de medidas contra o povo e os trabalhadores” não é fruto da imaginação, mas é real, afinal não há como negar o óbvio. Entretanto, afirma Doyle que a aliança com estes setores golpistas e neoliberais (sem aspas) é pertinente, pois poderia levar ao fim do poder de Bolsonaro, o que na verdade não é fato, pois quem sustenta Bolsonaro diante das inúmeras denúncias é justamente a “oposição” do centro golpista.

O autor cai, como cai toda a esquerda pequeno-burguesa, na ilusão do “mal menor”. Se bem existam diferenças entre o bloco bolsonarista e a direita tradicional, elas são secundárias quando se trata de combater seu inimigo principal: a esquerda, mais especificamente a esquerda com ligações com o movimento operário. Ao afirmar que é “critinismo parlamentar” apoiar um candidato bolsonarista na Câmara, Doyle esquece-se que não o mesmo vale para o apoio a um candidato de direita que seria supostamente contra Bolsonaro. Em ambos os casos a esquerda ficaria à reboque de um inimigo. E se equivoca redondamento quando diz que “a contradição principal da esquerda é com o bolsonarismo” pois, ao usar dessa tática para apoiar um direitista qualquer, a esquerda – ela sim – estaria caindo em uma ratoeira. E o gato que tentaria usar para matar o rato, na verdade, seria uma ratazana ainda maior e mais perigosa que o bolsonarismo, porque são justamente os setores mais poderosos da burguesia, ligados diretamente ao imperialismo, que sempre impuseram fome e miséria ao povo brasileiro, que colocaram Bolsonaro no governo justamente para evitar um governo de esquerda. E que, com os mesmos propósitos, estão dispostos até mesmo a apoiar Bolsonaro em 2022, caso um direitista tradicional não tenha condições de derrotar a esquerda.

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