Após a vitória dos candidatos de Bolsonaro na Câmara (Arthur Lira-PP) e no Senado (Rodrigo Pacheco-DEM), a ilusão da esquerda parlamentar em levar adiante o impeachment do presidente ilegítimo junto com a direita golpista foi completamente destruída. A concretude das emendas parlamentares e das gordas verbas liberadas pelo Planalto para comprar apoio no Congresso revelou a falsificação do discurso da “oposição” de que Rodrigo Maia (DEM) e Baleia Rossi (MDB) seriam os grandes defensores da democracia, “a luz contra as trevas do negacionismo bolsonarista”.
Isso ajuda a explicar porque derrubar Bolsonaro só é possível por meio de uma intensa mobilização da população nas ruas. Sem mobilização, o que há é o balcão de negócios do Congresso, onde “quem paga mais, leva”. Ou seja, tirar Bolsonaro pelas vias institucionais só é possível se a burguesia estiver unificada para tal, como fez com a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), em que toda a burguesia (de Maia a Bolsonaro, passando por Baleia, Lira e Pacheco) foi favorável.
No caso de Bolsonaro, não existe essa unidade que os golpistas adotaram contra o PT. Uma parte da burguesia quer substituir Bolsonaro por um elemento da direita tradicional, como Huck, Doria e afins, por exemplo. Já uma outra parcela da burguesia quer reelegê-lo em 2022, vide o centrão e setores importantes do DEM.
Para tirar Bolsonaro através de um impeachment, seria necessário obter maioria no congresso. Com apenas a votação que Lira teve, 302 votos, a abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro depende do próprio Congresso. Mesmo que por algum milagre um dos mais de 60 pedidos fosse aceito, de onde a “oposição” tiraria os votos para levá-lo adiante? É inviável, trata-se de tese de gente oportunista apoiada por pessoas ingênuas.
Vale lembrar que Temer era um governo muito mais fraco que Bolsonaro, mas mesmo assim os setores da burguesia que tentaram não conseguiram derrubá-lo. O Congresso não levou adiante acusações e investigações, mesmo sob uma forte pressão da Rede Globo. A questão é, por que com Bolsonaro seria diferente?
Como esclarecem deputados que compõem o chamado bloco de “oposição”: “Há aqueles que defendem o impeachment como meramente um discurso político, para esgarçar o presidente até as eleições. Esses estão preocupados exclusivamente com o processo eleitoral”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) ao jornal golpista Folha de São Paulo.
Ou seja, a esquerda parlamentar e partidos burgueses pseudo-esquerdistas, como PSB e PDT, expressam que não há qualquer condição para o Congresso derrubar o presidente, que o único caminho seria desgastá-lo para as eleições de 2022.
Por isso, é preciso compreender que o Fora Bolsonaro só será nas ruas, ou não será. A única forma de “convencer” a burguesia é impor sobre ela uma enorme pressão, obrigá-la a aceitar o impeachment para evitar algo pior ainda para seus interesses. Apenas uma mobilização radical das massas pode fazer isso, colocando o perigo de o povo mesmo derrubar Bolsonaro, o que faria a burguesia apresentar uma saída por cima, inevitavelmente abrindo um período de grande crise e instabilidade política.
Só os trabalhadores, tornando o governo inviável por meio da mobilizaão popular, podem forçar a burguesia a derrubar Bolsonaro pelo impeachment, não é tentando deputados, que têm preço e são muito bem remunerados, que isso será alcançado.
E a mobilização revolucionária dos trabalhadores pode, também, superar a própria burguesia de conjunto e derrubar o regime golpista por completo, não apenas Bolsonaro. E é nesta saída que a esquerda ligada ao movimento popular e as organizações dos trabalhadores devem apostar.