Com a política de acordo com a direita golpista, a esquerda está preferindo não enxergar a verdadeira farsa que é a campanha de vacinação no Brasil. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), está sendo glorificado por ter trazido a vacina contra a Covid-19 uma das mais caras e a menos eficaz do Mundo, a CoronaVac – que só foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com enormes dificuldade.
A realidade é que, como tudo sob o capitalismo, ainda mais num país governado pelos golpistas brasileiros, a vacinação no Brasil é uma fantasia, e só está sendo promovida pela imprensa monopolista por ser um balcão de negócios para burguesia. Tanto do ponto de vista político, uma vez que permite a campanha em torno do “salvador” Doria, um preparo para as eleições de 2022; quanto do ponto de vista econômico, favorecendo os grandes monopólios das indústrias farmacêuticas.
Não é a saúde do povo que está colocada em primeiro plano, mas os interesses dos capitalistas. Naturalmente, isso não significa que a classe operária ser contra a vacinação, que é fundamental para estancar o genocídio contra a população. Porém, isso não significa que os trabalhadores devem aceitar toda a bagunça que está sendo feita em torno da questão.
O papel da esquerda deveria ser o de orientar os trabalhadores contra a farsa dos capitalistas em torno da vacinação e em torno de uma política realmente popular. Para os revolucionários, o papel é mostrar como o capitalismo é um sistema parasitário que não dá conta nem da saúde da população; e, ainda, que transforma uma coisa positiva, como a vacinação, num gigantesco problema.
A farsa da vacinação no Brasil pode ser vista em todos os âmbitos. Primeiro, porque não há vacina suficiente e nem insumos para produzir os imunizantes. O atual número disponível não é suficiente nem para vacinar uma vez cada brasileiro, enquanto que são necessárias duas doses para realizar a imunização – mesmo que ela seja baixa, como no caso da vacina do Doria.
Segundo, porque a prioridade para a vacinação são os ricos e setores altos da burocracia estatal – como pode ser observado em Manaus, onde o recém empossado prefeito, David Almeida (PODEMOS), realizou fraudes para vacinar pessoas ligadas a ele, num estado onde, pela falta de oxigênio e o descaso geral da direita, a população está morrendo como barata.
Porém, este movimento não se resume a Manaus, onde o problema foi deixado mais explícito pela denúncia do Ministério Público. Na maioria dos Estados, surgiram denúncias de que estão sendo vacinadas pessoas mais ligadas aos políticos e empresários locais… Mas não só isso, apareceram também diversas denúncias de “sumiço” das vacinas – que por “acaso” acabaram sendo desviadas do poder público.
Chama atenção, para exemplificar a fraude, um fato que ocorreu em Maceió (AL), onde uma técnica da saúde fingiu vacinar uma idosa de 97 anos, picando-a mas sem lhe injetar o imunizante propriamente dito. Esse caso teve repercussão, pois a “vacinação” da idosa foi filmada por sua cuidadora, o que nos leva à questão: quantas outras pessoas não foram enganadas pelas suas prefeituras ao redor do país?
Além disso, há também o fato que o governo Jair Bolsonaro autorizou a compra de vacinas por empresas privadas, com algumas condições, como a de que as empresas vacinem seus funcionários. Obviamente, não serão vacinados os trabalhadores da empresa, mas seus diretores, administradores, enfim, os funcionários do alto-escalão.
Soma-se ao conjunto, as mais de 800 doses de vacina que foram descartadas no Rio de Janeiro e em São Paulo pela incapacidade de mantê-las na refrigeração adequada. Quer dizer, em linhas gerais: a vacinação no Brasil é uma farsa que fracassou em apenas duas semanas e serve apenas para realizar propaganda de genocidas e delinquentes profissionais, como João Doria e Eduardo Paes e para favorecer o interesse mesquinho dos capitalistas, que longe de estarem preocupados com a população, estão buscando aumentar seus lucros, neste caso, principalmente a indústria farmacêutica.
Só ganham os monopólios da indústria farmacêutica e as máfias políticas que fingem estar salvando o povo, enquanto o país já tem mais de 223 mil mortos “oficiais” e não há medidas efetivas de combate. Os “defensores da ciência e da vida”, como Doria, são os responsáveis pela chacina que existe no país, sendo tão assassinos quanto o “negacionista” Bolsonaro.
Não houve nenhuma medida, de fato, para conter a pandemia. O isolamento social, assim como a vacina, foi uma farsa para ludibriar a classe média, que teve o privilégio de poder ficar em casa – e isso apenas em parte, pois muitos pequenos empresários viram seus negócios falir. A grande maioria da população tem que sair para trabalhar para não prejudicar os grandes empresários, enfrentando transportes lotados e saindo nas ruas, onde não há nenhuma estrutura de atendimento e ajuda (nos metrôs de São Paulo nem mesmo álcool em gel é distribuído, muito menos luvas, máscaras, etc.).
Os “científicos” não construíram hospitais suficientes, não montaram estruturas de atendimento a domicílio, não testaram em massa (o que mostra a farsa dos dados oficiais do governo) e, como está claro, não tem um programa efetivo para imunizar a população. O que não faltou, porém, foi demagogia, que está sobrando até demais. Do ponto de vista concreto, a diferença entre os negacionistas e os “científicos” é que o primeiro faz o que diz e o segundo finge fazer o que diz.