A ex candidata a vice-presidência da República, Manuella D´Avila, do PCdoB, publicou recentemente um livro de sua autoria, intitulado “A revolução Laura”, no qual a autora pretende fazer uma análise do papel da mulher e do feminismo. O livro reproduz, de um modo geral, a política conservadora e reacionária adotada pela esquerda pequena-burguesa em relação a mulher e a luta por seus direitos.
Um dos pontos centrais desta política confusa e conservadora da esquerda-pequeno burguesa em relação ao feminismo, adotada por Manuela D`Ávilla, é defesa de que o feminismo seria a mulher “ser livre para fazer o que quiser”. Apesar de aparentemente tal posição parecer progressista, em sua essência ela carrega um caráter reacionário.
Primeiramente é preciso deixar claro que a afirmação de que feminismo é a “mulher ser livre para fazer o que quiser” não é uma posição marxista em relação à luta das mulheres, mas uma posição liberal do problema da mulher. É a derivação do conceito liberal de liberdade, o qual desconsidera as condições materiais, as contradições sociais, a luta de classes, e trata a liberdade como um conceito abstrato, relacionado estritamente ao plano das “escolhas” individuais.
Quando Manuela D´Àvilla afirma que feminismo é a mulher ser livre para fazer o que quiser” ela está afirmando que a mulher deve ser livre para escolher participar do mercado de trabalho, por exemplo, ou se ela preferir, se dedicar a vida doméstica, aos cuidados dos filhos , a vida de dona de casa. Nesse sentido, a escolha da mulher deveria ser respeitada.
Trata-se de uma concepção abstrata, como se a mulher pudesse escolher livremente a vida que ela irá levar. É preciso ressaltar que tal posição é compartilhada por setores da direita, os quais buscam fazer demagogia em relação à condição das mulheres por meio de posições confusas como esta.
Em primeiro lugar é preciso destacar que esta possibilidade de escolha individual não existe em relação à mulher, nem relação aos outros setores oprimidos da sociedade capitalista. A mulher já se encontra em uma posição subalterna a priori no interior da sociedade. A própria Manuela D Ávilla reconhece isso em seu livro quando afirma, por exemplo, que em muitos momentos pensou em abandonar a vida política por conta das pressões que sofria. Em outro trecho, a autora faz um elogio da maternidade, como se isso fosse um característica natural da mulher, o que também comprova opressão a que todas as mulheres estão submetidas.
Fato é que as mulheres representam um dos setores mais oprimidos socialmente no interior da sociedade capitalista. A enorme desigualdade salarial, a prevalência da chamada dupla jornada, que em muitos casos chega a ser tripla, a falta de direitos elementares, como o direito ao aborto, o direito à creche, bem como a falta de creches públicas, colocam as mulheres em um situação de extrema opressão social. Em uma situação como esta a liberdade de escolha das mulheres é reduzidissima, na realidade inexistente.
A esmagadora maioria das mulheres acabam sendo inseridas nestas condições. Neste sentido, o feminismo não é a luta pela liberdade em abstrato das mulheres, mas a luta pela sua libertação desta condição de opressão a que estão submetidas em seu cotidiano.
Esta luta não se desenvolve em um plano abstrato, mas em um plano material, concreto, de defesa das revindicações democráticas históricas dos movimentos de luta das mulheres, como o direito ao aborto, a isonomia salarial, o direito a creche pública, o qual está ligado a luta pela ampliação do número de creches para que as mulheres tenham mais tempo livre para se dedicarem a suas atividades sociais, produtivas e políticas.
Aqui temos que fazer uma crítica também a consideração realizada por Manuela D´Àvilla contra o cuidado dos filhos feito pelo estado, caracterizado por ela como sendo a “terceirização da maternidade”. Contra a “terceirização da maternidade”, Manuela D´Àvilla assume a posição direitista de que quem deve cuidar dos filhos é a própria mãe. Para justificar sua posição, D´Ávilla faz uma caracterização romantizada da maternidade.
É preciso destacar que a defesa da “maternidade” como um atributo das mulheres é justamente um dos principais fatores que contribuem para a chamada escravidão doméstica. O fato das mulheres estarem ainda vinculadas diretamente ao cuidado da casa, dos filhos, dos afazeres domésticos é o que impede que as mulheres tenham tempo livre para participar da vida social como um todo.
Nesse sentido, a libertação da vida doméstica, o que somente poderá ser feito pela luta das mulheres em defesa de reivindicações concretas, como a ampliação das creches públicas , por exemplo, consiste em uma etapa fundamental para a libertação da mulher da condição social oprimida em que se encontra. É preciso destacar também que a luta das mulheres somente será efetiva se estiver vinculada a luta da classe trabalhadora de um modo geral contra o regime capitalista de produção, em defesa do socialismo.