Um setor da esquerda está espantado com o “ascenso do fascismo” expresso nas declarações e atitudes (violentas) de Jair Bolsonaro e seus bolsonaristas.
Assustados, correm de um lado para outro repetindo que “não podemos deixar o fascismo ganhar”.
O fascismo, de um lado, o medo, de outro, e a disputa entre eles fazem parte das eleições, mas não se resumem, sequer remotamente, a elas.
Nem fascismo, nem Bolsonaro são dados novos da situação política. Só pode reduzir a luta contra o fascismo a uma luta eleitoral quem fizer um grande esforço para ignorar o que está acontecendo no País já há bastante tempo.
O fascismo de Bolsonaro é a continuação do golpe de Estado de 2016. É preciso analisar como a situação política evoluiu de lá para cá para entender como e por que o ex-capitão está perto de chegar à presidência, tendo como um vice um general que defendeu abertamente que os militares tomassem o poder nos últimos dois anos.
O golpe do impeachment, maquinado desde a reeleição de Dilma Rousseff em 2014, não teria sido bem-sucedido sem o apoio dos militares. Mais ainda: não teria ocorrido se os militares não tivessem dado o aval e participado na operação, como ficou evidente mais tarde na indicação do general Sérgio Etchegoyen para controlar a central de espionagem do Estado sob a fachada do governo Temer.
A escória que está nas ruas agredindo verbal e fisicamente mulheres, negros e homossexuais sempre esteve aí. Apenas levantaram a cabeça quando chamados a fazê-lo. Os fascistas que já deram as caras são velhos conhecidos. Recrutados entre policiais e militares da ativa e afastados do serviço, capangas, “seguranças”, há farto fornecimento de material para preencher as fileiras do fascismo.
Se já não foram educados praticamente, pelo menos moralmente estão adestrados, particularmente em São Paulo, pelos anos de repressão da Polícia Militar às manifestações políticas e sociais e pelo massacre cotidiano da população pobre e trabalhadora nas periferias. Não é preciso ilustrar demais, o fascismo já está presente embora tenha passado muito tempo dormente. Engana-se quem acredita também que a besta fascista despertou agora.
As eleições (e, com elas, a vitória virtual de Bolsonaro) são parte da operação golpista, a continuação do golpe de 2016.
Os golpistas precisavam, desde que removeram Dilma de maneira absolutamente ilegal, dar legitimidade ao golpe. Nada melhor que a aparência de apoio popular para tanto. Eis a função das eleições fraudadas e manipuladas como as que se realizaram neste ano.
A principal fraude eleitoral vem sendo elaborada e conduzida de muito tempo. Trata-se da prisão do ex-presidente Lula, uma vitória decisiva para os golpistas. Com o maior líder popular (e, de longe, o único candidato que realmente possui apoio na população) fora da disputa, ficou mais fácil conduzir o eleitorado, dividindo, confundindo, desorientando e, por fim, enganando-o abertamente. Com Lula na cadeia, a polarização política no País que vinha se desenvolvendo de maneira crescente (como a pressão cresce em uma caldeira sem válvula por onde escapar) se dissipou.
Só assim para a fraude completa ser possível. Quem acredita que o fascismo precisa ser combatido nas eleições também acredita que Bolsonaro tem mesmo o apoio de milhões de trabalhadores de norte a sul do País? Se Lula estivesse no páreo, ficaria mais difícil a manobra. Sem ele, conseguiram levar Bolsonaro para o 2º turno e ameaçar o país com a sua vitória.
O fascismo não é uma novidade. Não basta denunciá-lo, é preciso combatê-lo.Só a luta das massas trabalhadoras deste país pode colocar abaixo o golpe, os fascistas e o regime político que começaram a erguer com o golpe de 2016. E os meios para combater o fascismo já são conhecidos.
É preciso adotar os métodos da classe operária e de suas organizações de luta: a greve, os piquetes e as manifestações de rua, além de todo o esforço na agitação política com jornais, panfletos e cartazes para mobilizar amplamente contra o fascismo.
O golpe não pode ser derrotado com discursos de campanha eleitoral. É preciso denunciar e estimular o protesto contra a fraude eleitoral que colocou Lula na cadeia e Bolsonaro nas urnas. Lutar contra os fascistas e os golpistas detrás deles com a palavra-de-ordem de “Fora Bolsonaro e todos os golpistas”. Lutar pela liberdade de Lula e de todos os presos políticos.