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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

A luta não pode parar

O dever de todo o revolucionário é fazer a revolução

A crise atual é um divisor de águas na esquerda nacional. De um lado, os que preferiram ficar em casa. De outro, os que entenderam a necessidade de pôr em prática os seus ideais

Por Eduardo Vasco

A frase que intitula este artigo, de Ernesto Che Guevara, pode parecer óbvia, redundante. Afinal, o horizonte, o objetivo, a finalidade de qualquer revolucionário é realizar a revolução. Mas, tanto em sua época, como agora, ela constitui uma advertência a todos aqueles que se dizem revolucionários, que acreditam serem revolucionários.

A revolução não é algo abstrato. É algo que deve, necessariamente, transcender o plano filosófico e teórico para o plano prático. Tanto é que os marxistas bem conhecem a famosa tese número 11 de Karl Marx, nas Teses sobre Feuerbach, apontando a diferença abismal entre o marxismo e as demais correntes filosóficas: “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo, cabe transformá-lo.”

Logicamente que não se pode desdenhar da parte teórica, afinal, Lênin já avisava que não existe prática revolucionária sem teoria revolucionária, mas a esquerda faz questão de não entender nada de teoria marxista, caso contrário a prática seria muito mais evidente – se é que ela existe – do que realmente é.

Podemos criticar o Che por ele não ter sido nenhum teórico marxista, mas àqueles que se vangloriavam de conhecer de cor todos os livros de Marx e Engels e não mexiam um palito para colocar em prática o programa revolucionário, Guevara respondeu liderando com Fidel Castro a construção do Estado Operário em um país absurdamente atrasado e levando a revolução a outros continentes. Foi um mártir, um herói da classe operária e dos povos explorados do mundo todo. Porque colocou em prática aquilo que acreditava.

A esquerda hoje adotou Che Guevara como um santo padroeiro da luta dos oprimidos. Mas de maneira oportunista. E de maneira oportunista também evoca Marx e Lênin, sem aplicar seus ensinamentos. Ou melhor, indo de encontro ao que falaram e fizeram.

Quando nos vemos diante, talvez, do maior desafio enfrentado pela atual geração da esquerda brasileira, percebemos, de uma vez por todas, o quão atrasada ela está com relação aos acontecimentos. O governo de tendências e características fascistas de Bolsonaro pavimenta o caminho para a concretização de uma ditadura, sem oposição alguma.

A desculpa de toda a esquerda é a chaga do coronavírus. A necessidade da quarentena veio em excelente momento para a burocracia partidária, sindical e dos movimentos sociais. “Fique em casa”, a propaganda da burguesia dirigida especialmente à classe média, virou um mantra dessa esquerda, justamente porque sua classe social é a pequena-burguesia.

Escondem-se em suas casas espaçosas e quartos adornados de estantes com livros de Marx, Engels, Lênin e uma série de acadêmicos estudiosos do marxismo. Fazem lives, gravam stories, postam fotos e textões sobre o que fazer enquanto se está isolado. Dicas de livros, filmes, séries marxistas e de esquerda para se entreter. É isso: se entreter. O estudo não tem como objetivo a absorção do conhecimento para levá-lo em prática. Não se busca apreender o conhecimento para transformá-lo em ação. Trata-se do conhecimento e, pior, do entretenimento, por si só.

Enquanto isso, aqueles pelos quais a esquerda deveria estar lutando e se sacrificando, continuam sendo, eles sim, sacrificados e jogados à penúria. Não podem ficar em casa, porque o sistema os devora. O povo do abismo tem duas escolhas: ou morre de fome, ou de doença. Mas ele que se vire, porque os que deveriam estar ao seu lado deram as costas a ele.

“Mas não há nada para fazer, temos que esperar a pandemia passar para depois voltar a lutar contra o governo e pelos direitos da população”, diz o esquerdista, debaixo de sua cama, de pijama.

O problema é que, mesmo antes da pandemia, as organizações da esquerda nunca fizeram nada para avançar na luta pela derrubada de Bolsonaro e pela derrota da direita. O vírus é apenas um ótimo pretexto para não se fazer nada, mais uma vez. Sentiram-se aliviados os burocratas pequeno-burgueses quando puderam encontrar uma justificativa para fechar as portas dos sindicatos. As bases estavam começando a incomodar, com uma pressão cada vez maior nas ruas pela mobilização popular.

Uma parte dos militantes, percebendo que é preciso fazer alguma coisa pelo povo, iniciou ações de caridade, formando brigadas para levar produtos básicos aos mais pobres. Comparado ao total imobilismo dos dirigentes, é, sem dúvida, um avanço. No entanto, infelizmente, leva a resultado quase nenhum.

Não são ações de caridade que conseguirão tirar da miséria milhões de pessoas em uma crise dramática como esta. Somente o Estado pode fazer isso. E o Estado está sob o controle da burguesia fascista. É preciso lutar contra ele, por sua derrubada. E essa luta é uma luta política.

Quem procura colocar em prática essa luta política, através de um trabalho de agitação e organização cujo método é semelhante ao das brigadas de solidariedade – isto é, o contato com o povo, nos bairros populares e operários – é brutalmente atacado pela esquerda de apartamento. “Estão levando o vírus para essas pessoas”, “vão contaminá-los ou se contaminar”, “irresponsáveis, fiquem em casa!”, é o que dizem.

Mas o fato é que estes estão fazendo alguma coisa. Porque é papel da esquerda, ou melhor, sua obrigação, seu dever natural, permanecer ao lado do povo e orientá-lo para a luta.

Se ao menos fosse proposta alguma alternativa a isso… mas não é. Inclusive, é mais do que possível realizar ações de propaganda e agitação, e de organização popular, sem colocar ninguém em risco. O uso de proteção é uma coisa que os que fazem algo para mobilizar o povo colocam em prática. Mas, mesmo outras ações, como a colagem de cartazes, de adesivos, a pichação de muros, a extensão de faixas, que são ações de agitação e propaganda, permanecem absolutamente ignoradas pela esquerda “responsável”. É preciso falar a verdade: ela não está preocupada em proteger a população, está preocupada com seu próprio umbigo. Não quer “se sujar”. Não quer colocar a mão na massa. Nunca quis.

A crise atual é um divisor de águas, definitivo talvez, na esquerda nacional. De um lado, os que rejeitam a prática revolucionária, a luta pela soberania e emancipação dos trabalhadores e de todos os explorados, e preferem ficar em casa sem fazer absolutamente nada a não ser inflar os seus egos. De outro, os que levam a sério e estão dispostos a levar às últimas consequências os seus ideias e a sua filosofia e prática revolucionárias. Apreenderam as lições da história, uma história da luta de classes, e os exemplos de Marx, Lênin, Trótski e tantos outros revolucionários, como Che Guevara, que não ficaram apenas nas palavras, mas dedicaram sua vida à causa operária.

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