Por Nivaldo Orlandi
“Se você quer mesmo consertar a economia brasileira e reencontrar o caminho do crescimento econômico, o governo deverá promover a reindustrialização do país”, alerta jornal Estadão, em editorial de 05/02/2020.
A produção industrial recuou 1,1% em 2019, depois de dois anos de modesta expansão. O parque industrial brasileiro ainda é um dos nove ou dez maiores do mundo, mas está estagnado, atrasado e sem poder de competição.
Indústria precisa crescer 21,9%, para voltar ao pico atingido no governo PT
Houve um tombo de 18% entre os pontos mais altos da série histórica, atingidos no trimestre encerrado em maio de 2011, no início do governo Dilma e os três meses finais de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro. Para voltar ao pico de produção industrial de 2011, no governo do PT, o volume industrial a ser produzido precisa crescer 21,9%.
No primeiro ano de Bolsonaro, nada de crescimento industrial, e ainda queda de 1,1%. Antes, no governo Temer, breve e acanhada recuperação. Indústria cresceu 2,5% em 2017 e 1% em 2018. O desastre da mineração, sempre lembrado quando se comenta os números da indústria, explica apenas uma pequena parte do desastre. O exame mais detalhado mostra recuos em 16 dos 26 ramos de atividades cobertos pela pesquisa industrial. Recuo em 40 dos 79 grupos. Recuo em 54,2% dos 805 produtos industriais incluídos no levantamento regular.
Em todos os trimestres de 2019, no governo Bolsonaro, o desempenho foi pior do que um ano antes, que já raquítico fora. Embora o preocupante resultado tenha ocorrido desde os três meses finais de 2018, o novo governo nada fez, para tentar pelo menos conter o declínio da indústria.
59%, a fatia de manufaturados exportados em 2000, hoje é de apenas 35%
Além das perdas na produção industrial desde 2013, Brasil sofre um atraso enorme em termos de tecnologia e inovação. Isso é visível no comércio exterior. Em 2000, as vendas de manufaturados corresponderam a 59% do valor exportado. Em 2009, já recuara para 44%. Não mais parou de recuar. Com exceção de 2016, a participação dos produtos industriais nas exportações do Brasil, sempre foi inferior a 40%. Em 2019, a parcela dos manufaturados caiu para 35%, a menor taxa desde o ano 2000.
“Política industrial”, para o governo Bolsonaro, a expessão é tida como “blasfêmia”
“De vez em quando algum membro do governo fala de produtividade e competitividade, mas sem apresentar mais que vagas intenções e idéias. A expressão “política industrial” é evitada, tida como blasfêmia. O discurso é geralmente um recitativo com tinturas de liberalismo econômico e nenhuma referência clara a planos, metas e instrumentos.
Não surpreende que, até as modestas projeções de crescimento industrial chegam a parecer “otimistas.”. O alerta do Estadão, feito em 05/02/2020, é taxativo, “o desafio é reindustrializar o Brasil. Somado à epidemia do coronavírus chegando no país, a disparada do dólar, beirando os R$ 4,50, queda do Ibovespa de 7%, viomundo, de 26/02/2020, antevê racha no bloco do poder bolsonarista.
Para além dos impactos de curto prazo na economia, que a imprensa capitalista tenta colocar na conta do coronavírus, existe algo que só um projeto de longo prazo poderia consertar.
A destruição histórica da indústria nacional
Na Crítica da Economia, Fernando Grossman e José Martins explicam que os propagandistas das “reformas” desconsideram a decadência da indústria como um fator fundamental, quando analisam o Pibinho de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro.
Estes economistas da era bolsonariana e das reformas imperialistas no território nacional não tem a mínima idéia do papel estratégico de um forte e necessário desenvolvimento industrial para a solução dos problemas do crescimento (para não falar do desenvolvimento) econômico nacional. Atual equipe econômica bolsonarista não têm nenhum projeto real de desenvolvimento econômico para o Brasil. Para eles, só há o liquidacionismo. A destruição pura e simples. O processo de destruição puro e simples da antiga indústria produtora brasileira é enfiado pela goela da opinião pública nacional como uma coisa natural e sem importância.
Mas existem outros economistas com um mínimo de sanidade mental, como aqueles do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Uma minoria que ainda mantém certa lucidez teórica e prática na defesa do que ainda resta daquela agonizante indústria desenvolvimentista do passado. Estes últimos moicanos da antiga “burguesia industrial progressista” são o passado. Em voga, para primeiro plano, os inconfessáveis desígnios da nova maioria burguesa bolsonariana da FIESP, CNI, etc. A participação da indústria no PIB nacional já foi de 21,4%, informa o IEDI. Declinou nos últimos 50 anos findos em 2017, para 12,6%. Não para de desabar, 2019 foi mais um ano de declínio da produção da indústria nacional, queda de 1,1%.
A desindustrialização veio para ficar e é crescente, se a direita se mantiver no poder. Intensificou-se na era Collor, continuou na era FHC, e fortaleceu-se a partir da crise fabricada pelo impeachment de Dilma e a retirada do PT do Governo e a chegada de Governo Bolsonaro.
Brasil amolda-se aos desígnios do imperialismo
Brasil amolda-se aos desígnios do imperialismo. Cada vez mais o país será fornecedor de commodities, e importador de produtos industrializados, consumidos por cada vez menos pessoas, em um crescente oceano de miseráveis à margem da linha de pobreza.
A indústria brasileira está rigorosamente estagnada, não sai do lugar desde 2013, aproximadamente. A evolução da economia nacional subordina-se rigidamente à dinâmica da indústria de transformação. Essa importância estratégica da indústria, ignorada pelos atuais arautos da destruição, não passa despercebida por amplos setores das classes dominantes.
É o caso do conservador jornal O Estado de São Paulo. No editorial de (05/02) coloca o dedo na ferida, “o desafio é reindustrializar” o Brasil. Adverte àqueles liquidacionistas acima destacados que “se quiser mesmo consertar a economia brasileira e reencontrar o caminho do firme crescimento, o governo terá de promover a reindustrialização do País”. Essa crítica conservadora do Estadão à cantilena liberal do governo e da atual direção da FIESP morrendo de amores por Boçalnaro e seu liquidacionismo econômico é um movimento para se observar na lupa.
O processo de afundamento da economia é o suprimento material para a inevitável tendência de cisão burguesa no coração da produção industrial nacional.
Esta tendência deve ser considerada como variável de peso nos cenários da guerra civil que se avizinha. Fora Bolsonaro!