Por quê estou vendo anúncios no DCO?

80 anos da morte de Trótski

O caráter reacionário da teoria do “socialismo em um só país”

No programa marxismo desta última segunda-feira (26 de outubro), o companheiro Rui explica a crítica trotskista à teoria do socialismo em um só país

No programa “Marxismo” de hoje (26 de outubro), o companheiro Rui Costa Pimenta deu sequência à série de programas que tratam do legado de Leon Trótski, em memória dos 80 anos de seu assassinato pelo mercenário stalinista Ramon Mercader. Esta sequência de programas vem sendo intercalada com outra série, a dos 150 anos de nascimento de Lenin, e com outros programas, sobre temas atuais que surgem na situação política.

No texto abaixo, será apresentada uma breve resenha do programa, no entanto, para uma compreensão mais profunda do tema, assistir o programa e procurar pesquisar a bibliografia indicada sobre o assunto é fundamental. 

Nesta edição, o companheiro Rui falou sobre a oposição de Trótski à teoria stalinista do “socialismo em um só país”. A oposição trotskista a essa teoria revisionista constitui uma importante luta contra a reação da burocracia que tomou conta da União Soviética a partir da subida de Stalin ao poder. Apesar de seu claro caráter reacionário, há ainda setores da esquerda que defendem o socialismo em um só país e procuram transformá-lo em uma parte da teoria marxista, o que consiste um verdadeiro absurdo, visto que ela é uma revisão de um aspecto central do marxismo.

Socialismo em um só país – um revisionismo grosseiro do marxismo

Para compreender essa questão, é preciso ter em vista que para Marx e Engels, o socialismo não era um plano de governo, uma teoria de como deveria se portar o Estado capitalista diante de suas instituições, mas sim uma nova etapa do desenvolvimento humano, posterior ao capitalismo. O socialismo só pode existir em sua integridade após a superação do sistema econômico imposto pela burguesia, através de sua derrota pela revolução conduzida pelas mãos do proletariado.

Antes do capitalismo, houve outras etapas da evolução da sociedade humana, começando pela Grécia e Roma antiga, passando pelo feudalismo e chegando ao capitalismo. Todas essas etapas foram contraditórias, assim como o capitalismo ainda o é, ou seja, comportam dentro de si conflitos entre diferentes classes sociais de seres humanos. Os conflitos poderiam ser entre escravos e mestres, servos e burguesia contra a nobreza ou entre o proletariado e a burguesia. O socialismo seria, no entanto, a primeira etapa da história humana sem essas contradições internas, ou seja, sem conflitos.

No entanto, sob a influência do stalinismo, muitos setores da esquerda passaram a considerar o socialismo como uma forma de administrar um país. Para eles, quando se fala em socialismo, se pensa em determinadas medidas que um governo viria a tomar diante de sua organização política e econômica. Como exemplo, haveria a estatização de todas as empresas, um controle maior da economia e outras ações, que alterariam um pouco a relação entre as classes sociais dentro daquele país. A aplicação dessas economias, portanto, transformaria o país em “socialista”, segundo acreditam estes setores. No entanto, é evidente que as relações econômicas deste país com o resto do mundo permanece regida pelas leis do capitalismo.

Nos tempos atuais, o mercado mundial já é uma realidade que se impõe em todos os países, e isso já ocorre no mundo desde muito tempo atrás. A economia já é, na prática, mundial, e a ideia de uma economia somente “local” ou de uma “autarquia” é, por si só, reacionária. O que seria progressista é este capitalismo global se tornar um socialismo internacional.

Um outro problema com a teoria do socialismo em um só país é que os países atrasados ainda não possuem a capacidade de superar o capitalismo. No seu interior, há ainda diversas manifestações do que seria uma economia pré-capitalista. Nestes países, ainda precisam ser realizadas uma série de reformas já realizadas pela burguesia dos países desenvolvidas após as suas revoluções burguesas. Por conta disso, é que o socialismo deve começar nos países desenvolvidos.

A União Soviética nunca ultrapassou os países capitalistas, em parte também por possuir uma economia autárquica, ou seja, isolada em seu território. Trótski colocava que a tarefa principal da URSS seria alcançar e, posteriormente, ultrapassar os países capitalistas. Sem passar pelo capitalismo é impossível chegar ao socialismo, pois este se utiliza dos desenvolvimentos promovidos pelo capitalismo para realizar sua emancipação da humanidade. Além disso, era fundamental impulsionar os processos revolucionários de outros países, principalmente dos mais desenvolvidos e imperialistas. 

Por conta dessas colocações, os stalinistas acusavam os trotskistas de não quererem construir o socialismo em seu próprio país, o que é totalmente falso. Trótski havia feito todo um programa para o desenvolvimento da União Soviética, mas, apenas a revolução mundial poderia abrir o caminho para um verdadeiro socialismo.

O stalinismo e a aplicação prática do “socialismo em um só país”

Para além das contradições teóricas do socialismo em um só país, é preciso ressaltar as implicações práticas muito negativas desta ideologia, que é o verdadeiro sentido de qualquer discussão em âmbito político, já que uma discussão de teorias sem observar seu desenvolvimento na prática tem um caráter puramente acadêmico.

A verdadeira utilidade da teoria do socialismo em um só país era a de preservar os interesses da burocracia stalinista que geria a URSS. Neste sentido, fomentar a revolução em outros países traria diversas consequências negativas para esta casta, que se desenvolveu por sua luta contra o proletariado de seu país. A primeira destas consequências negativas seria a dificuldade em fazer alianças com os países capitalistas e a segunda seria a possibilidade de uma revolução dentro da própria União Soviética. 

Essa formulação deu à política da URSS um caráter fortemente nacionalista. Sob o comando de Stálin, a Terceira Internacional passou a atuar como uma extensão dos interesses da burocracia soviética, o que afetava os Partidos Comunistas de todos os países, que atuavam sob seu comando. 

Este caráter nacionalista fica bastante claro após a Segunda Guerra Mundial, quando a classe operária de diversos países se armou para enfrentar o fascismo. Isso aconteceu até em importantes países imperialistas, como a França e a Itália. Diante disso, a burocracia stalinista atua no sentido de garantir a estabilidade dos regimes capitalistas nestes países, ou seja, sufocou esta mobilização revolucionária em todos os lugares.

Na França, o Partido Comunista integrou o governo do direitista General Charles de Gaulles, que era tão fascista quanto a extrema-direita francesa, apesar de não ser tão germanófilo quanto eles. A influência do stalinismo era grande e o PC também influenciou o Partido Socialista a integrar este governo. Na Itália, ocorreu o mesmo, com os partidos Comunista e Socialista integrando o governo do General Badoglio, um fascista que havia participado, inclusive do governo de Mussolini.

Além disso, após o sanguinário esmagamento promovido pelos britânicos do movimento revolucionário da classe operária da Grécia, os stalinistas nada disseram, permitindo que aquele massacre passasse em branco. Uma criminosa colaboração com o imperialismo.

No fim das contas, a URSS dividiu a Alemanha e o mundo, junto com os Estados Unidos e o Reino Unido, se comportando como uma potência capitalista. Esta é a consequência prática da ideologia do socialismo em um só país e é o que rendeu a Stálin o título, dado por Trótski, de “O grande organizador de derrotas”.

Toda essa formulação foi retirada do programa “Marxismo”, apresentada pelo companheiro Rui Costa Pimenta. Caso queira se aprofundar melhor no assunto, assista abaixo:

 

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.