Já ficaram batidos demais os argumentos de Miguel do Rosário para tentar justificar a política de adaptação ao golpe e a Bolsonaro, representando a postura da “Frente Ampla” encabeçada por PDT, PCdoB, PSB e a ala direita do PT. No entanto, a cada dia ele inova na forma.
Desta vez, em matéria do último dia 8, O Cafezinho apresenta dados da última pesquisa Datafolha sobre a prisão de Lula que comprovariam a impopularidade do ex-presidente e, assim ajudariam “a entender a eleição de Bolsonaro”.
No artigo, Rosário compara os dados da pesquisa realizada logo após a prisão ilegal de Lula, em abril de 2018, com os da última pesquisa, divulgada nesse final de semana. De acordo com as cifras mais recentes, na maioria das classes sociais a maior parte dos consultados acha justa a prisão do líder petista.
É uma pesquisa abertamente fraudulenta, para tentar apresentar o clamor popular cada vez maior pela liberdade de Lula como algo que não existe. Na verdade, as ruas desmascaram completamente essa pesquisa. Em todos os atos populares as palavras “Lula Livre” ou “Liberdade para Lula” são das mais gritadas, os adesivos com esses dizeres são distribuídos como água e no País inteiro e mesmo fora existe uma ampla campanha para libertar Lula.
Mas Miguel do Rosário apresenta a pesquisa justamente para tentar convencer a esquerda de que o povo não estaria nessa onda.
“Esses números confirmam o erro da candidatura Lula em 2008. Um cidadão condenado e preso, com 54% da população apoiando sua prisão, não é, obviamente, um bom candidato à presidência da república”, escreve.
Ou seja, continua em sua defesa de que o PT deveria ter apoiado Ciro Gomes nas eleições, ou ao menos, desde o início, apostado na candidatura da ala direita. “Foi, portanto, uma decisão irresponsável. Se o PT não admitia entregar a cabeça de chapa para outro partido, então que escolhesse, desde o início, um candidato da própria legenda, e fizesse um trabalho inteligente para reduzir a rejeição.”
Mas o serviço de porta-voz de Ciro Gomes e da ala direita da esquerda não se resume às eleições de 2018. É a política desse setor impedir a luta nas ruas para soltar o ex-presidente, assim como para derrubar Bolsonaro. Porque isso polariza a situação política.
“Os números do Datafolha mostram ainda”, continua o artigo, “que não é inteligente, à esquerda e à oposição, centralizar sua narrativa na campanha pela liberdade de Lula”. O Cafezinho faz, assim, uma contracampanha, pela manutenção de Lula na prisão.
Para tentar disfarçar minimamente sua postura, Rosário diz que é a favor da liberdade de Lula. Mas que essa reivindicação deveria ser feita através do “desenvolvimento de livros, revistas, e ensaios jurídicos sólidos”. Esse é o mesmo articulista que disse, recentemente, que a esquerda deveria substituir os atos de massa por “workshops profissionalizantes, cadastros para participação em ações políticas objetivas [quais?] e, sobretudo, debates abertos (…) sobre a questão do comércio ambulante, do uso do lixo, nutrição, economia doméstica, segurança pública e, sobretudo, emprego”.
É muito pedantismo por parte de Miguel do Rosário, batendo sempre na mesma tecla da suposta impopularidade das principais palavras de ordem levantadas pelos trabalhadores e a esquerda que luta contra o golpe. Para isso, sempre se utilizando de pesquisas fraudulentas dos golpistas. O Cafezinho não quer luta, quer adaptação ao golpe, e isso é demonstrado em seus artigos e entrevistas, servindo de porta-voz aos defensores da conciliação com a direita.