Em resolução publicada no último sábado (12), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) apresentou o seu balanço das eleições municipais de 2020. Reverberando a análise da imprensa burguesa e de toda a esquerda pequeno-burguesa, a legenda comemorou o resultado eleitoral como uma vitória contra o bolsonarismo:
O extremismo bolsonarista, que não encontrou maioria na sociedade e nem nas instituições, nas redes sociais ou na imprensa, foi derrotado na sua ofensiva autoritária
A tese de que o bolsonarismo teria sido derrotado, no entanto, não é precisa. Afinal, Bolsonaro não estava disputando consigo mesmo as eleições — se ele foi derrotado, foi derrotado por alguém. Não existe derrotado sem vencedor. Trata-se da mesma propaganda da esquerda internacional em relação às eleições norte-americanas, que diz que Donald Trump foi derrotado, mas fecha os olhos para a vitória do genocida Joe Biden.
Se o “o bolsonarismo foi derrotado”, o PSOL teria de dizer por quem: João Doria, Eduardo Paes, o PSDB, o DEM etc. E, assim sendo, ou o PSOL teria de decidir se a direita nacional, que é uma das coisas mais podres, mais antipopulares, que representa tudo aquilo que diz condenar, é a salvação do País, ou então que a salvação do País viria da política da esquerda. Se a salvação for a política da esquerda, não houve qualquer derrota de Bolsonaro. Ele pode ter perdido as eleições, mas o bloco golpista saiu vencedor. A derrota, para a esquerda, foi total. Se o PSOL considera que as eleições são o caminho, o que aconteceu é que Bolsonaro, junto com seus aliados da direita golpista, saiu-se vitorioso. Tanto é que os partidos que mais cresceram eleitoralmente foram os partidos do “centrão” mais alinhados com a extrema-direita, como o PSD, o DEM e o PP. A suposta “luta contra o fascismo” nas eleições naufragou.
O balanço do PSOL mostra que a política da esquerda pequeno-burguesa não se pauta em um programa. Não se pauta por uma perspectiva definida. Não se pauta pela conquista de um determinado objetivo. É uma política sem rumo, que não consegue se cristalizar como política própria porque a esquerda acaba sendo subordinada à burguesia e, no caso atual, à direita. A política do “mal menor” apenas revela que o critério da esquerda é o de que “eu estou no mundo para escolher aquilo que é menos ruim”. Melhor seria, assim, não ter política nenhuma. O PSOL se coloca, neste sentido, como uma nulidade, um zero à esquerda do ponto de vista político.
Essa nulidade ficou escancarada em todo o último período. Na questão da luta contra o governo Bolsonaro, a esquerda depositou todas as suas fichas no apoio a uma suposta luta do “mal menor”, que seria a direita não diretamente bolsonarista. Na questão do coronavírus, apoiou os governadores. Na questão da eleição municipal, a esquerda apoiou a direita que seria o “mal menor”. No balanço eleitoral, o PSOL deixa claro o seu alinhamento com a burguesia na “luta contra o bolsonarismo”.
Com essa defesa, a esquerda está deixando de existir enquanto esquerda. O que justifica a existência da esquerda, se ela está aí para apoiar a direita? Qual é a solução que ela apresenta para o País? Qual a função da esquerda?
O PSOL enquanto partido político, na verdade, não existe. A esquerda pequeno-burguesa de conjunto se apagou do cenário político.
A esquerda, na realidade, assumiu, como seu programa, o programa da direita. Se a direita é quem vai salvar o País do fascismo, a esquerda se transforma automaticamente no apêndice político da direita. Em todos esses acontecimentos, a esquerda deveria ter tido, se ela quisesse ter um papel de primeiro plano na situação política, uma posição independente.
O “mal menor” expresso na resolução do PSOL não é um grande segredo da estratégia política. O “mal menor” seria um partido não ter papel significativo nenhum, e ter que escolher, entre o tigre e o leão, aquele que vai devorar você no final. E pior: essa política, profundamente equivocada e abertamente reacionária, sequer se estende a todas as situações do País. Em várias situações, a esquerda pequeno-burguesa não tem posicionamento político. O “mal menor” é um posicionamento puramente eleitoral, que levará a esquerda inevitavelmente para o precipício.