Terça-feira (18) o site The Intercept Brasil divulgou a sétima parte de sua série de reportagens expondo a atuação ilegal da Lava Jato. Anteriormente tinha ficado demonstrado que os procuradores e o então juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça do governo golpista de Jair Bolsonaro, agiam secretamente contra o réu, em um conluio entre o julgador e uma das partes. Com as revelações apresentadas na sétima reportagem da série ficou demonstrado também que a operação, na prática chefiada por Moro pelo que se lê nas conversas, ficou demonstrada também a proteção da operação a pelo menos um político do PSDB: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Uma conversa entre Moro e o coordenador da Lava Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol, mostra a Lava Jato ao mesmo tempo blindando o PSDB e usando uma acusação por um crime já prescrito contra FHC para dar ares de imparcialidade à operação. A troca de mensagens pelo aplicativo Telegram, do dia 13 de abril de 2017, foi assim:
Moro – 09:07:39 – Tem alguma coisa mesmo seria do FHC? O que vi na TV pareceu muito fraco?
Moro – 09:08:18 – Caixa 2 de 96?
Dallagnol – 10:50:42 – Em pp [princípio] sim, o que tem é mto fraco
Moro – 11:35:19 – Não estaria mais do que prescrito?
Dallagnol – 13:26:42 – Foi enviado pra SP sem se analisar prescrição
Dallagnol – 13:27:27 – Suponho que de propósito. Talvez para passar recado de imparcialidade
Moro – 13:52:51 – Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante
A conversa aconteceu no mesmo dia em que foi ao ar uma reportagem do Jornal Nacional falando sobre uma denúncia de caixa 2 envolvendo FHC. Dallagnol foi a um outro grupo do Telegram, que reunia promotores da Lava Jato em Curitiba e em Brasília (de onde os documentos foram enviados para São Paulo) perguntar sobre a prescrição do caso:
Dallagnol – 11:42:54 – Caros o fato do FHC é só caixa 2 de 96? Não tá prescrito? Teve inquérito?
Sérgio Bruno Cabral Fernandes – 11:51:25 – Mandado pra SP
Sérgio Bruno Cabral Fernandes –11:51:44 – Não analisamos prescrição
Dallagnol – 13:26:11 – [nesse ponto Dallagnol enviou uma figurinha representando uma piscada de olho]
Esse conjunto de mensagens não deixa dúvidas sobre o sentido da Lava Jato. Dallagnol fala abertamente na necessidade de “passar recado de imparcialidade” com uma acusação por crime já prescrito, ou seja, sem consequências para o acusado, FHC. Significa que ele, primeiro, sabia que a operação não era imparcial. E segundo, que convinha disfarçar esse fato, já que publicamente a Lava Jato afirmava continuamente em sua propaganda que a operação seria “apolítica” e “imparcial”.
O caráter parcial da operação fica mais escandaloso na fala de Sérgio Moro: “Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante”. Ou seja, Moro reprova a manobra porque FHC não deveria sequer ser incomodado, mesmo que em uma demonstração sem consequências. A fala também revela o alinhamento político da operação com partidos de direita. FHC era um “apoio”. A operação se apoiava em políticos.
Para completar a obra, enquanto FHC era denunciado por crimes já prescritos com o objetivo da Lava Jato de fingir isenção, havia outros crimes pelos quais ele poderia ter sido denunciado e investigado que ainda não estavam prescritos. FHC foi nomeado nove vezes na Lava Jato. Mas em relação aos crimes que poderiam levá-lo a alguma condenação, nada foi feito.
Como no caso das outras denúncias do Intercept, a observação atenta dos passos da operação já permitia concluir que ela funcionava assim: blindando tucanos e perseguindo a esquerda. Agora, no entanto, há provas que mostram os próprios agentes da Lava Jato se articulando para agir dessa maneira. E mostrando o comprometimento das instituições com a direita golpista.
Diante de tudo isso, Lula deveria ser libertado imediatamente. Porém, isso não acontecerá por si só, por mais que a ilegalidade da Lava Jato seja agora um fato inegável. É preciso mobilização nas ruas contra as arbitrariedades da direita golpista. Continuar as mobilizações, e levar às ruas a palavra de ordem: liberdade para Lula!