Após um breve período de arrefecimento das mobilizações de rua, que ocorreram ao longo dos meses de maio e junho, provocadas pelo assassinato do segurança negro George Floyd pelas mãos da polícia, os Estados Unidos se tornam novamente palco de uma nova etapa de mobilizações, principalmente por parte da população negra. Apesar de toda a crise que se estourou na primeira onda de protestos, tendo como um dos principais alvos a polícia, e de todas as medidas anunciadas pela classe política pretendendo evitar a violência policial, uma suposta boa conduta por parte dos policiais na qual se acreditou que ocorreria se mostrou fora da realidade. No último dia 23, mais um episódio da truculência policial estadunidense teve lugar, abrindo consequentemente uma continuação da crise, que está fora de controle. Dessa vez, o estopim dos novos protestos foi a covarde tentativa de assassinato do afro-americano Jacob S. Blake, de 29 anos, ao levar sete tiros nas costas durante uma abordagem policial na cidade de Kenosha, no estado de Wisconsin, cujas filmagens foram feitas por testemunhas.
Logo no dia seguinte ao ocorrido, um toque de recolher foi decretado na cidade entre a noite do dia 24 para 25 de agosto, sendo desobedecido pela população, que voltou a descer às ruas para protestar. Demonstrando sinais de radicalização e revolta da população contra a política repressiva simbolizada pela polícia, veículos e lojas foram destruídos e prédios incendiados. Rapidamente a revolta em Kenosha contagiou grandes cidades norte-americanas como Nova Iorque, a capital Washington, Minneapolis e Portland, nas quais centenas de pessoas foram às ruas, sendo a última o local da morte de George Floyd e palco inicial da primeira leva de protestos, há três meses.
Além das cenas de destruição e dos tradicionais enfrentamentos desproporcionais entre policiais (mais e melhor armados com armas de fogo, gás lacrimogêneo, cassetetes e bombas) e manifestantes (que se defendem e revidam como podem com garrafas, fogos de artifício e outros objetos), o combate entre o povo e a extrema-direita já atinge o ponto do armamento da população, com episódios de manifestantes armados cercando um veículo blindado da polícia e de um jovem da extrema-direita assassinando a tiros de fuzil duas pessoas.
Em resposta aos protestos que se espalham pelo país, o presidente fascista Donald Trump convocou a Guarda Nacional para reprimir os protestantes em Kenosha. Em episódios anteriores, mostrando o endurecimento do regime político, que cada vez mais vai à direita, Trump criminalizou movimentos antifascistas e passou a sequestrar manifestantes, sendo postos em veículos sem identificação por policiais e agentes federais.
Dentro deste contexto de agudíssima crise na nação que é o coração do sistema capitalista, encontram-se as eleições presidenciais, com a disputa entre Donald Trump, tentado a reeleição, e Joe Biden, representante da ala mais direitista do partido democrata, candidato favorito dos principais setores da burguesia imperialista, e que para a esquerda pequeno-burguesa seria a salvação contra o fascismo, sendo uma tentativa de neutralizar a revolta das massas nas ruas e joga-las para o terreno eleitoral, que não oferece uma verdadeira saída para a crise em favor dos interesses dos trabalhadores e da população negra.