Coluna de estréia de Rafael Fernandes, jornalista e colaborador do Diário Causa Operária
Estávamos no final de 1988, menos de um ano antes das eleições. A TV Globo usou um dos seus horários mais prestigiados para falar de ações que melhoram a vida das pessoas. Uma parte importante daquele Globo Repórter – um bloco ou dois – contaram uma falsa história de Fernando Collor de Mello ou, “O Caçador de Marajás”… o político de Alagoas que supostamente teria acabado com a corrupção.
Não chegava a ser uma novidade. Getúlio Vargas havia sido combatido pela imprensa capitalista sob o argumento de que o país mergulhara num “mar de lama”, conforme acusavam os jornalistas. As campanhas difamatórias foram amplamente alargadas depois da criação da Petrobrás como empresa estatal de interesse estratégico.
Jango enfrentou ataques semelhantes depois de criar a lei de controle das remessas de lucros (1962) para que empresários estrangeiros pagassem caro para enviar lucros para fora do país. A ideia era clara: dinheiro gerado no Brasil deveria ficar no Brasil para aplicação em atividades produtivas. Piorou a situação, o início de 1964 com o decreto que iniciou a reforma agrária. Jango caiu, foi exilado e morreu fora do país. [Recomendo a leitura de “Jango e Eu”, de João Vicente Goulart.]
A grande imprensa só sossegou durante a ditadura militar. O episódio de Collor, narrado anteriormente foi apenas mais um e não foi o último. Anos depois de derrubar Collor, a mesma imprensa passou a defender a receita do FMI para combate à crise econômica do Brasil. Novamente, buscando criar uma “opinião Pública”favorável” à política econômica que Fernando Henrique implantou, um modelo que seria defendido como sendo de “salvação nacional”. Na época, nenhum veículo da grande imprensa mencionou que dezenas de países implantavam a mesma receita e obtiveram os mesmos resultados: o fim da inflação era “pago” com um pesado programa neoliberal que destruiu riquezas nacionais e jogou muita gente na pobreza. Ou seja: FHC não inventou nada, apenas obedeceu as ordens lá de fora.
A virada do milênio não trouxe novidades. A imprensa capitalista internacional defendia que havia armas de destruição em massa no Iraque, apoiando as ações contra aquele país. Depois, veio a campanha do mensalão, que só não pôs fim ao governo Lula por causa da popularidade do ex-presidente. Sem sucesso, as imprensa sempre golpista passou a atacar o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ditador, sanguinário, lunático, eram apenas alguns dos adjetivos (que foram reforçados depois que a TV golpista da Venezuela perdeu a concessão por fraudar imagens de manifestações de rua para incriminar o presidente). Enquanto o “assassino”, Chávez, limitava-se a comandar os venezuelanos, os “bondosos” Estados Unidos massacravam populações pelo mundo como embaixadores da liberdade, da paz e da democracia. Todo mundo acreditou e obedeceu.
As cotas nas universidades passaram a ser “estímulos aos vagabundos”. O bolsa-família foi apresentado como “um grande programa de compra de votos”. A ex-presidente, Dilma Roussef , como “burra” e todos os brasileiros com camisetas da CBF nas ruas eram defensores de um país melhor, mais justo e menos corrupto. Assim, a imprensa golpista contou as suas versões da história e a opinião pública seguiu, curtiu e compartilhou obedientemente.
Bolsonaro jamais foi fascista. Ele deve ser apenas um excêntrico com coragem para dizer o que as pessoas apenas pensam. Não tivemos um golpe. Moro é o novo cavaleiro da justiça, papel para o qual Fernando Collor prestou-se há décadas. Tudo isso contado diariamente, apresentado como sendo o pensamento do próprio povo, apresentado como a “opinião pública” para tentar evitar que a realidade se impusesse. Agora, Maduro é o louco assassino e os EUA, querem destinar uma “ajuda humanitária” para o povo venezuelano. Os monopólios da imprensa mídia que tratam Trump (apenas) como mais um político genioso, massacram o limitadíssimo governo da Venezuela. Nenhuma palavra sobre o boicote dos empresários e sua relação com o desabastecimento e a crise no país vizinho.
Em nossas colunas, vamos nos dedicar – principalmente – a tratar da questão do papel imprensa capitalista. O que ela defende de fato, por detrás do que aparenta ser?