Na última sexta-feira (6), a cidade do Recife teve o seu primeiro ato de rua expressivo desde o início da pandemia de coronavírus. O protesto contra o assassinato de Miguel Otávio, que morreu por causa da negligência da patroa de sua mãe, acabou trazendo à tona uma série de elementos que expressam de maneira bastante clara a luta política em curso. Um desses elementos, que está hoje no centro do debate da política nacional, foi a tentativa fracassada da esquerda pequeno-burguesa de despolitizar as manifestações contra o governo Bolsonaro.
O protesto havia sido organizado por inúmeras entidades — a maioria delas com pouca ou nenhuma relevância política e ideologicamente ligadas ao PSOL. Sob o pretexto oportunista de que “a família não entendia que a morte de Miguel foi um crime de racismo”, tais entidades fizeram de tudo para evitar que a manifestação adquirisse um caráter abertamente político. Isso, no entanto, se mostraria impossível.
Dentre os expedientes que os organizadores utilizaram para impedir a politização do ato, os organizadores exigiram que os manifestantes vestissem preto — o vermelho havia sido proibido do protesto — e que nenhuma faixa com palavras de ordem fosse aberta. O PSOL e seus asseclas proibiram até mesmo que houvesse carro de som — assim todos os gritos seriam ouvidos e aqueles que gritassem palavras “proibidas” seriam “advertidos”.
O episódio mais significativo do ato, contudo, ocorreu quando alguns membros da organização vieram para cima de manifestantes porque haviam aberto uma faixa em que constava a palavra de ordem Fora Bolsonaro. Agindo como verdadeiros bolsonaristas, os organizadores chegaram a chutar um dos mastros que sustentavam a faixa e gritaram, de maneira bastante histérica, para que os manifestantes “vazassem”. As demais pessoas que estavam presentes na manifestação não seguiram o exemplo da organização do evento. Muito pelo contrário: o povo resolveu enfrentar e abrir a faixa mesmo assim. Todos esses eventos se encontram retratados no vídeo abaixo:
Chamou particularmente a atenção o fato de que, apesar de todo o empenho do povo em reagir à atitude bolsonarista dos organizadores da manifestação, nenhum militante da esquerda pequeno-burguesa que estava presente procurou intervir. Os integrantes que ali estavam do POR, do PSTU e do PCB aceitaram ordeiramente a ditadura dos organizadores e não procuraram se manifestar politicamente. E, quando o povo tentava abrir a faixa, também não foram lá se posicionar.
Com efeito, a atitude da deputada Jô Cavalcanti, que integra o mandato coletivo de deputado estadual do Juntas-PSOL, foi a que se destacou. Junto com os organizadores, a psolista tentou intervir para que a faixa não fosse aberta de modo algum e tentou intimidar alguns dos manifestantes. A pergunta que fica, nesse caso, é a seguinte: quem a deputada estava defendendo? Afinal de contas, apenas alguém que seja contra o Fora Bolsonaro se incomodaria tanto a ponto de querer suprimir, pela força, uma manifestação nesse sentido. Aqui, a política e o método se fundem: o bolsonarismo da deputada casa com o fato de que tirar a faixa do ato é uma defesa da extrema-direita no poder.
O método que o PSOL defendeu no Recife já seria bolsonarista em qualquer condição, visto que usar da força para impedir que a esquerda se manifeste é um expediente fascista, mas é ainda mais bolsonarista porque defende abertamente a permanência de Bolsonaro no poder. Para que não haja dúvidas disso, basta ver quem elogiou a atitude da deputada:
E para que não haja confusão do significado de “direita”, colocamos aqui, em imagem, o que defende o grupo: