Com toda uma operação montada para o policiamento e supervisão dos 442 locais de realização da prova e suas imediações, que contou com a participação de mais de 500 policiais descaracterizados, o Centro Integrado de Comando e Controle da “Operação Enem” – tradicionalmente realizada nacionalmente para monitorar e organizar da aplicação do exame – não divulgou o registro de qualquer ocorrência até o fechamento dos portões no estado do Piauí.
Conforme noticiado pela imprensa, Audivan Nunes, major da Polícia Militar e coordenador operacional da segurança do Enem no Piauí, considerou que o ideal seria ter policiais à paisana também nas salas de prova, o que, segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado, não ocorreu. Esta opinião indica a desconfiança, ora da própria corporação policial, ora da burocracia estatal responsável pelo exame, da capacidade dos fiscais de prova em prevenir fraudes, apesar da autoridade destes para desclassificar estudantes com base no seu comportamento durante a prova, das diversas regras sobre objetos que não podem ser portados e de procedimentos como o uso de detectores de metais em estudantes antes de autorizar o seu uso dos banheiros – este, ao contrário da medição da temperatura na entrada do local de prova, sempre presente, segundo relatos de estudantes.
A desconfiança é perfeitamente coerente com o caráter das forças de repressão e dos membros do governo golpista, levando-se em conta que qualquer pessoa com ensino médio completo e que passe por um curto treinamento pode ser fiscal de prova, um trabalho que paga no máximo poucas centenas de reais – nada como um policial para vigiar estudantes e fiscais e garantir que a prova seja “igual” para todos.
Para além do tradicional favorecimento da juventude burguesa e pequeno-burguesa na distribuição das vagas nas universidades, o vestibular deste ano em que o ensino nas escolas públicas praticamente não ocorreu é um concurso ainda mais injusto. Como maior vestibular do País, agrava-se o impulso que a realização da prova dá à campanha pela retomada do ensino presencial e a ameaça de um novo surto de contaminações, configurando uma vitória política da burguesia, uma derrota da juventude operária e, certamente, o aumento do número de mortes pela doença.