O relatório produzido pela Oxfam para o Fórum Econômico Mundial em Davos, denominado “Tempo de cuidar”, aponta a importância do trabalho doméstico feminino para a Economia mundial e destaca as consequências da desvalorização deste trabalho invisível para a saúde da mulher e a limitação de sua emancipação.
“Tempo de cuidar”, traz dados que indicam cerca de 14 horas diárias de trabalho invisível das mulheres em suas comunidades e lares, relativamente 5 vezes mais que o trabalho masculino no quantitativo geral. Atividades como buscar água, lenha, cuidado com crianças e idosos são delegados à mulheres e crianças do sexo feminino e muitas vezes são uma continuidade do trabalho na roça nas zonas rurais.
O trabalho de “cuidar” é apontado como sendo a principal causa da infrequência escolar e que , as mulheres mais afetadas são as mais pobres e pertencentes à grupos que sofrem outros tipos de discriminação além do gênero, como preconceito racial, de nacionalidade, sexualidade e casta. “Na Bolívia, por exemplo, 42% das mulheres afirmam que o trabalho de cuidado constitui o maior obstáculo à sua participação na política”, aponta o texto.
Historicamente, o trabalho feminino formal e o “invisível “ apontado no relatório, são colocados em segundo plano pelos governos e relegados em termos de importância para as economias locais, uma vez que estudos apontam que o trabalho invisível agrega US$ 10,8 trilhões por ano à Economia mundial, equivalendo a três vezes mais que desempenho do setor de tecnologia em todo o mundo.
A desvalorização do trabalho no lar é evidente, por exemplo, na atual reforma previdenciária de Bolsonaro. Nela a mulher teve sua idade de aposentadoria elevada, desconsiderando a realidade das famílias nas quais em sua maioria recaem sobre a mulher os cuidados familiares e domésticos apesar da pretensa “emancipação feminina”.
Reconhecer a importância do “trabalho de cuidar“ como um entrave à emancipação feminina é fundamental para a busca da igualdade de gêneros. Não basta simplesmente a exigência de equiparação de vagas, cargos e salários entre os sexos. Para a libertação da mulher é imperiosa a criação de mecanismos que possibilitem a retirada de seus ombros a responsabilidade pelo cuidado do lar e da família. Medidas que possibilitem de fato a libertação da escravidão servil ao lar, permitindo que as mães trabalhadoras possam se dedicar com mais tranquilidade à afazeres que não os domésticos. Como por exemplo à própria participação política, seja partidária ou sindical, o aprofundamento nos estudos ou aperfeiçoamento técnico e profissional, sendo de responsabilidade do governo a criação destes mecanismos de emancipação.
O Partido da Causa Operária (PCO) apresenta em seu programa no item 11, propostas claras que implicam diretamente na emancipação feminina de forma a permitir a libertação da mulher do aprisionamento ao lar e controle de sua prole:
“Diante da crescente superexploração, opressão, violência e discriminação da mulher: salário igual para função igual; campanha nacional pela obrigatoriedade da implantação de creches pelo Estado; desmantelamento de toda a rede de esterilização e punição dos responsáveis pelo assassinato de mulheres em verdadeiros açougues em que se constituíram a maioria das clínicas de aborto; liberdade para a mulher decidir sobre seu corpo com a legalização do aborto e sua realização, em condições dignas, pela rede pública de saúde.”
Pode-se acrescentar a criação de restaurantes coletivos, retirando das mulheres a atribuição de alimentar sua família e facilitando assim o trabalho fora do lar. Da mesma forma lavanderias, creches e tudo o mais que refere-se ao cuidado dos filhos.
Sem medidas objetivas e práticas relacionadas ao “trabalho invisível”, jamais poderemos falar ou esperar a desejada igualdade de gêneros. Esta só pode vir como uma conquista das mulheres na luta contra a opressão da burguesia, do contrário não passa de demagogia da imprensa capitalista e da esquerda pequeno burguesa.