O golpe de Estado na Bolívia, que está sendo posto em xeque pela reação popular nas ruas, tem contado com um exótico aliado em sua tarefa de domar o regime político boliviano. Estamos falando da política suicida do MAS, o partido de Evo Morales, que entrou em um acordo com a direita no Senado do país para a convocação de novas eleições.
As informações são do sítio Actualidad, que afirmou que o Senado da Bolívia aprovou por unanimidade na tarde do último sábado (23 de novembro) um projeto de lei de “regime excepcional e transitório” para a realização de novas eleições gerais, anulando os resultados das últimas eleições, onde Evo Morales havia sido eleito ainda no primeiro turno. Quer dizer, a decisão de se realizar um novo pleito ocorreu em um consenso absoluto entre o MAS e a direita no senado, que tem representantes do partido de Jeanine Áñez, que se autoproclamou presidenta da Bolívia, com as costas quentes do imperialismo e da burguesia boliviana.
Para os céticos da esquerda brasileira, que apontam a suposta impossibilidade de se convocar novas eleições no Brasil no caso da derrubada de Bolsonaro, este caso na Bolívia comprova que não se trata de um problema jurídico ou institucional, mas político; caso o regime político no país entre em uma profunda crise, não será uma lei que impedirá este desfecho. Entretanto, para que a convocação de um novo pleito tenha um caráter minimamente democrático, seria necessário que antes a mobilização popular derrubasse o governo golpista, no caso do Brasil, o governo Bolsonaro, e na Bolívia, o governo de Áñez.
A convocação de novas eleições, em meio a um golpe militar e com o poder nas mãos de um elemento de extrema-direita, como Jeanine Áñez, é uma ratoeira para a esquerda. É uma tentativa de legitimar o golpe de Estado, por um lado, e de arrefecer as manifestações populares com um movimento que supostamente seria democrático. Afinal, há um setor da esquerda que atua como uma espécie de “craqueiro eleitoral”, uma dependência de nível quase químico por eleições, por mais controladas e antidemocráticas que elas sejam. No entanto, cabe a pergunta: afinal, o povo já não havia eleito Evo, ainda em primeiro turno? Qual a garantia de que a vontade popular será respeitada dessa vez? Nessas condições, a realização de novas eleições seria, conforme destacamos anteriormente, uma arapuca.
Resta saber se o povo boliviano, que tem demonstrado muita disposição de luta e discernimento político, será ludibriado por esta manobra. É preciso denunciar a política verdadeiramente criminosa do MAS, em tentar chegar em um acordo com as Forças armadas e a extrema-direita na Bolívia e enterrar de vez as mobilizações no país. Na cova que está se cavando para as mobilizações bolivianas há muito espaço para os parlamentares do MAS, que hoje se prestam a este papel de salvar o golpe de Estado. Os acontecimentos na Bolívia devem ser acompanhados de perto, dada a sua relevância para a luta contra o golpe de caráter continental que temos visto na Bolívia, no Brasil e em toda a América Latina.