A última Copa do Mundo consagrou o novo “juiz,” diplomado pelas confederações esportivas, para ajudar a manipular os resultados dos jogos. Exatamente, trata-se do VAR – vídeo assistant referee ou árbitro assistente de vídeo – que “orienta” o árbitro sobre “lances polêmicos” decisivos, curiosamente a favor dos times mais ricos.
E esse VAR também goza dos mesmos privilégios dos juízes reacionários, dos policiais e outros membros das forças repressivas que encontramos nas ruas. Uma delas é que eles são blindados a críticas. Sob o pretexto de “desacato à autoridade”, o jogador também precisa ficar quieto a respeito das arbitrariedades desses árbitros. Do contrário: suspensão!
Em junho, a UEFA suspendeu Neymar por três jogos, por ter “ofendido” o VAR. Em sua rede social, o jogador criticou um pênalti polêmico: “Isso é uma vergonha. Ainda colocam quatro caras que não entendem de futebol pra ficar olhando o lance em câmera lenta. Isso não existe. Como o cara vai colocar a mão de costas? Ah vai pra…” O pênalti marado pelo VAR nos acréscimos eliminou seu time do campeonato europeu.
O lance foi, no mínimo, contestável, embora a imprensa nada fale a respeito, e proíba as retransmissões com base em “direitos autorais”. O comentário de Neymar é quase o de um lorde inglês, se comparado com os gritos e xingamentos que são tradicionais e tornam o futebol emocionante. Mas eis que a burguesia (sempre criticando Neymar de chorão por tomar carrinho no campo), por ser burguesia, impõe seu jogo, no qual ela não tolera sequer uma crítica na rede social.
É o “futebol moderno” defendido pela classe dominante, se transformando num evento burocrático, sem emoção, definido dentro de uma cabine, com jogadores calados, torcedores proibidos de quase tudo, e comentaristas igualmente monótonos, que não ousam levantar uma opinião fora do roteiro definido pela cartolagem.