A chapa de Jair Bolsonaro (PSL) e Hamilton Mourão (PRTB) foi vitoriosa em um processo eleitoral fraudulento, cuja espinha dorsal foi a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua exclusão do processo eleitoral, aceita bovinamente pela esquerda quando se investiu na candidatura de Fernando Haddad.
A aceitação da esquerda, porém, comandada majoritariamente por capituladores, não significa a legitimidade do regime que se instaura a partir das eleições. A legitimidade só se dá quando a maior parte da população admite e segue o poder instituído – e não é o que ocorre no caso de Bolsonaro, eleito com apenas 39% dos votos. Tal falta de credibilidade vem a reboque da própria fraqueza do regime golpista hoje comandado por Michel Temer – o presidente mais impopular da história –, com o apoio do Poder Judiciário e do aparato repressivo estatal. Daí a opção do núcleo duro do golpe, comandado pelo Imperialismo, por militarizar o Estado “por aproximações sucessivas”: os golpistas sabem que estão prestes a implementar medidas anti-povo, destinadas a destruir o país. Um governo sem apoio popular só pode levar a cabo tais medidas lançando mão de uma brutal repressão.
O programa de governo de Bolsonaro, suas declarações, a escolha dos ministros, tudo aponta para o aprofundamento das medidas do golpe de Estado em curso: privatização ampla e irrestrita, desmonte do Estado, ataque aos trabalhadores em geral e especialmente aos servidores públicos, extinção das políticas sociais, sucateamento da educação e da saúde pública, entrega de nosso patrimônio natural ao estrangeiro. Tudo em benefício da burguesia internacional e das oligarquias locais, sobretudo banqueiros e latifundiários. Para debelar a reação popular, pretendem perseguir e criminalizar as organizações e lideranças populares – como já vêm fazendo com o PT e com Lula.
Não cabe, por isso, à esquerda acreditar que uma mera política de oposição parlamentar será suficiente para combater o golpismo bolsonarista. Os partidos serão colocados na ilegalidade, os mandatos de esquerda serão cassados, os líderes encarcerados. À semelhança do que ocorreu em 1964, os movimentos de luta pela terra e pela moradia serão considerados terroristas, tornando-se os alvos preferenciais da repressão.
Nenhuma concessão, por isso, deve ser feita a um eventual governo de Jair Bolsonaro. Nenhuma das medidas anunciadas por ele ou por sua equipe deve ser tomada como inevitável. Sua eleição foi ilegítima e cabe à classe trabalhadora mobilizar-se por meio de greves, atos, bloqueio de ruas para impedir que chegue ao poder. Deve-se lutar pela liberdade imediata de Lula e pela realização de eleições controladas pelo povo, e não pelos golpistas. Não ao cretinismo parlamentar esquerdista! Fora, Bolsonaro! Liberdade para Lula!