Em artigo publicado pelo portal Brasil 247 no dia 5 de abril, o dirigente do PCdoB, Ricardo Cappelli, apresenta a ideia, em vigência entre diversos setores da esquerda pequeno-burguesa, de que o coronavírus e o governo Bolsonaro vão passar:
A dor possui a estranha capacidade de nos tornar mais humanos. A pandemia parou o tempo, desafiou paradigmas e vai gerar muitas reflexões. Tudo indica que nunca mais seremos os mesmos.
Estenda a mão ao próximo. Aprenda a ignorar a ignorância dos que agridem. Seja um elo forte da corrente do bem. Abrace sua família. Não desanime. Não dê ouvidos à insensatez de um presidente tresloucado. Assim como o vírus, ele também vai passar. Fique em casa.
Segundo Cappelli, portanto, o cenário extremamente negativo que está se desenhando com o avanço da pandemia — cenário que o próprio Cappelli descreve demoradamente, citando o colapso no sistema de saúde no Equador e na Europa — irá passar. Isto é, a pandemia e o próprio governo Bolsonaro seriam fenômenos que iriam sumir naturalmente.
Essa tese, no entanto, é falsa. Tanto o vírus, quanto o governo Bolsonaro não irão deixar de ser um problema para os trabalhadores se não forem efetivamente combatidos. Para entender isso, peguemos, por exemplo, o caso da peste bubônica, responsável por uma crise extraordinária no modo de produção feudal.
No século XIV, a peste bubônica, transmitida sobretudo por roedores, que hospedam a bactéria Yersinia pestis, chegou a matar 100 milhões de pessoas, o que correspondia a cerca de 20% da população mundial. A bactéria, até hoje, continua circulando em todo o mundo, e a peste, por sua vez, continua sendo uma doença que pode ser adquirida pelos seres humanos. No entanto, nos últimos dez anos, menos de 1.000 pessoas morreram em decorrência da doença. E esse número só reduziu porque o avanço da ciência e uma série de esforços permitiram que a enfermidade fosse combatida de maneira mais tranquila.
A mesma coisa acontece com o vírus corona. Não há qualquer indício de que o parasita irá sumir da face do planeta. No entanto, se houver uma política que vise combater efetivamente o coronavírus, será possível sobreviver à pandemia. Isto é, ou há um plano sério para construir hospitais, expropriar os hospitais privados, distribuição de medicamentos, estatização da indústria farmacêutica, proibição das demissões, construção de abrigos, universalização do saneamento básico, investimento na pesquisa etc., ou o coronavírus continuará causando uma devastação incalculável.
Não é diferente com o governo Bolsonaro. O mandato do presidente ilegítimo está previsto para durar até dezembro de 2021 — nesse sentido, o mandato ainda não está nem mesmo na metade. Somente esse período já seria suficiente para causar um enorme estrago nas condições de vida da população: demissões e muitas mortes. Mesmo assim, não há nada que indique que a direita irá abandonar o controle do regime político em 2022. Muito pelo contrário: após o golpe de 2016 e a fraude eleitoral de 2018, ficou claro que a burguesia irá lançar mão de quaisquer meios para se manter no poder. É preciso, portanto, derrubar o governo imediatamente.
Felizmente, a luta pela derrubada do governo coincide com o combate à pandemia e à crise econômica. A única maneira de garantir que haja um plano sério para combater a crise é por meio da mobilização dos trabalhadores em torno dos seus interesses — isto é, pela derrubada dos governos dos capitalistas. Para concretizar isso, é preciso formar conselhos populares em todo o País, como forma de colocar os trabalhadores em movimento para tomar, pela força, o controle da saúde pública e de todas as questões que lhe são fundamentais. Fora Bolsonaro e todos os golpistas!