Um estudo publicado nesse mês de abril pela Social Inequalities and Covid-19 Mortality in the City of São Paulo (Desigualdades sociais e mortalidade por Covid-19 na cidade de São Paulo, em tradução livre), indicou que pessoas negras têm 81% a mais de chance de morrer por COVID-19. Ou seja, mais de 80% da população que veio a óbito em São Paulo é negra.
A pesquisa que deu base ao estudo analisou os dados da população que veio a óbito no Estado entre os meses de março e setembro de 2020. De uma maneira geral, a pesquisa percebeu também que as classes sociais que tinham menos acesso a Educação, e que também dispunham de uma renda menor, foram as que tiveram mais óbitos pela doença.
Considerando esse contexto, faz todo o sentido que a população negra esteja definitivamente mais vulnerável ao contágio e, consequentemente, morra. Isso se dá porque, de acordo com o informativo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, divulgado em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 10% da população com menor renda no Brasil, 75,2% é negra, ou seja, a maioria esmagadora da população pobre do País é negra.
Esses dados colocam em xeque declarações dos caciques da direita como, por exemplo, o governador do Estado, João Doria (PSDB). Dizer que o coronavírus não tem classe social é absolutamente ridículo e de um cinismo sem precedentes. É óbvio que o coronavírus não conhece a conta bancária de quem se hospeda, no entanto, ignorar a vulnerabilidade da população negra no País é pura canalhice.
Dizendo de outra maneira, é uma atitude de cunho criminoso, já que Doria tem o pleno conhecimento da condição da população trabalhadora e da população pobre, esta, que não dispõe de água, sabão e é grande parte integrante da população desempregada ou dependente do trabalho informal no País. É importante destacar que as favelas são grandes conglomerados da população pobre e, entre esta, a população negra é grande maioria.
A pesquisa revelou também que a cidade de São Paulo possui 4,09 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) por 10 mil habitantes. Entretanto, se formos comparar os setores públicos e privados, a tragédia e os crimes causados pelos empresários capitalistas e pela direita ficam evidentes. Essa taxa é de 5,27 no setor privado e apenas 1,58 para o Sistema Único de Saúde (SUS). Pois bem, os dados confirmam: a população está abandonada para morrer, entregue à própria sorte.
O Estado tem o maior e o melhor sistema de saúde do País, seja ele público ou privado. A situação, mesmo com a disponibilidade do sistema de saúde, é catastrófica. Imagina-se o desempenho de outros estados do território brasileiro, como em Manaus (AM), por exemplo, quando até Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, um país dez vezes menor que o Brasil, se mobilizou para ajudar, diante ao abandono do governo genocida de Jair Bolsonaro.
Assim, está colocado para a população negra e suas organizações a luta, nas ruas, pelos seus direitos fundamentais. Ficar em casa, a quarentena que a burguesia aponta como necessidade, não resolveu o problema da pandemia até agora, pois não é uma política colocada em prática de uma maneira séria.
Como todo problema social, é preciso manifestação pública, política, para resolvê-lo. De pressão do povo na rua. Sempre foi assim com a população negra, e agora não será diferente. Daí a importância do 1º de Maio que se aproxima, dia de luta do trabalhador, e das manifestações de rua, especialmente em São Paulo, para denunciar a política criminosa e assassina de gente como João Doria.