Os dados são do Ministério da Saúde, divulgados na última sexta (10/04), contendo detalhes sobre o quadro de infectados atendidos nos hospitais do país. Mostram que dos 19.638 casos confirmados com a Covid-19, até o início da tarde desta sexta, 4.536 ou 23,1% eram negros, já entre os mortos, que totalizam 1.056, 32,8% ou 346 pacientes eram negros. Já entre a população branca, os números apresentam variação no sentido contrário entre os dois parâmetros. Dos 19.638 casos confirmados, 73,9% ou 14.512 são brancos, já para os óbitos, os brancos correspondem a 64,5% ou 681 casos.
As informações demonstram que, apesar dos brancos serem maioria, tanto no número total de casos como em número de mortos, a letalidade entre a população negra é maior. Mostrando de outra forma, de cada 10 pessoas internadas com síndrome respiratória aguda grave (parâmetro do ministério) 2 são negros. Já entre os que morrem pela Covid-19, de cada 10 mortes 3 são negros.
Estes dados, que aliás estão incompletos, pois dos 19.638 há 2.283 em que não se identificou a cor, colocam mais preocupação na população pobre, majoritariamente negra, é claro, e que demonstram que não há nada de “democrático” na pandemia. Segundo informações da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, do total de brasileiros que não tem plano de saúde e dependem exclusivamente do SUS, 67% são negros.
A população negra que também é majoritária nos subúrbios, favelas e comunidades do país, é a população que mais sofre os efeitos da exploração contínua da burguesia e especificamente da política neoliberal de destruição do Estado. Sob o argumento de fazer o Estado mínimo, a lógica neoliberal acaba com programas sociais, fecha hospitais, postos de saúde e unidades de atendimento, demite médicos e técnicos de saúde, e principalmente aumenta as taxas de desemprego e diminuição da renda dos trabalhadores.
São essas condições políticas e econômicas que jogam a população negra a condições precárias de vida, a viver em localidades com baixo índice ou nenhum saneamento básico, em moradias precárias, sem condições de manter uma alimentação adequada e até adquirir medicamentos para manter sob controle doenças como hipertensão, diabetes, tuberculose, que também são comuns à população mais pobre e negra.
Outro aspecto importante é que os dados divulgados pelo Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e municipais, não são reais, pois há uma subnotificação gigantesca, podendo ser cerca de 11 vezes superior, reconhecida por estes órgãos inclusive, que deixam de fora das estatísticas oficiais casos de pessoas com sintomas que ou vão às unidades de saúde e não são testadas ou que nem chegam a ir, seja por estarem sendo desestimuladas pelos próprios governos, seja por estarem obrigadas a trabalhar ou por não conseguirem atendimento, que é o mais comum e realidade constante nas periferias do Brasil.
Na última semana, entidades do movimento negro reivindicaram ao Ministério que registrasse e divulgasse o quadro de infectados e mortos com dados sociais de raça, gênero e localização. Porém, é necessário que a população negra reivindique muito mais, que sejam feitos testes gratuitos, de forma irrestrita, que haja atendimento em todos os bairros e comunidades, que seja garantido o rendimento e o trabalho das pessoas.
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