Uma análise da vacinação do Brasil conclui: negros e pardos representam apenas 19% do total de vacinados no país, mesmo representando cerca de 56% da população brasileira.
Um negro tem cerca de 40% a mais de chance de vir a falecer pelo contágio da Covid-19 do que um branco; paralelamente, apresenta cerca de 3 vezes menos chances de ser vacinado pela ainda incipiente campanha de vacinação promovida a passos de tartaruga pelos golpistas. Em São Paulo, esse percentual de chance de falecimento salta para 62%. Mais atingidos pela violência policial, pelo desemprego, contemplados com menores salários e muito mais vulneráveis socialmente, não chega nem a ser uma surpresa que os negros são os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus, tendo em vista que representam 57% do total de mortos pela Covid-19.
A pandemia que chegou ao Brasil em março do ano passado evidenciou toda a desfaçatez e descaso que a direita adotou em seu gerenciamento da situação. Nenhuma medida eficaz, nenhuma política de contenção do avanço do contágio, nenhum plano de recuperação econômica que não expusesse o povo operário ao flagelo do novo coronavírus, nenhuma conduta que prezasse pela vida dos trabalhadores essenciais, o poder público não conseguiu nem fazer uma comunicação clara sobre a pandemia. Nada, absolutamente nada. Apenas a demagogia do mote adotado pela direita e pela esquerda que vive a reboque: “fique em casa”. O resultado? 255 mil mortos e contando.
Enquanto os negros, esmagadoramente operários, se abarrotam num transporte público que causaria horrores no início do século passado, a vacinação segue privilegiando profissionais da saúde, majoritariamente brancos, uma parcela de uma casta burocrática do estado e os idosos, que em sua maioria são brancos, muito em função, das condições de trabalho que os negros são submetidos ao longo da vida, reduzindo assim, a expectativa de vida dessa parcela da população.
Diferente do que pregam setores identitários, termos e ideologias não se sustentam sem a concretude da vida real e das relações sociais produzidas por tal materialidade. Nesse sentido, debater o fato do negro ser menos vacinado não tem sido um problema pautado pelo identitarismo, pelo contrário, o setor parece mais interessado no que acontece dentro de um reality show de um dos maiores porta-voz do racismo e da desigualdade social no país. Concomitante ao debate sobre quem é quem dentro de um programa de televisão o povo negro segue morrendo, agora não só pela ação policial, pelo flagelo da fome, do desemprego e pela parca atividade de defesa da vida humana conduzida pelo Estado. Outros dois flagelos assolam o povo negro brasileiro: o aumento do contágio pelo novo coronavírus e a falta de vacinação para essa parcela da população.