O índice PMI anunciado nesta sexta-feira (24) foi considerado muito baixo pelos analistas de mercado dos Estados Unidos da América do Norte. De 49,8 pontos em junho, subiu para 51,3 em julho em uma análise preliminar dos dados coletados pela IHS Markit. (Valor, 24/7/2020)
Nos EUA, esse é um indicador de atividade econômica muito citado pela imprensa. O PMI (Purchasing Managers Index) é feito a partir da consulta mensal a gerentes de 400 empresas em 20 ramos econômicos em todos os estados norte-americanos. É um indicador que tenta antecipar o que pode ocorrer na economia daquele país a partir das ações de compra de suprimentos feitas pelas empresas. Por exemplo, se há um crescimento expressivo na compra de papelão pelo setor de embalagens, isso significa que esse setor está se preparando para um aumento nos pedidos feitos pelas indústrias.
Desde abril, o noticiário norte-americano estampa o fechamento de grandes cadeias de lojas de varejo, o que ocorre em parte pelas mudanças de consumo, com compras que migram para a internet há alguns anos, e devido também em parte a repercussão da crise econômica no emprego e renda dos trabalhadores. No início de maio fechou a rede Neinam Marcus, com uma divida de US$ 4 bilhões, depois foi a JC Penney, uma rede de mais de 188 anos, com dívidas de US$ 1 bilhão. Está no mesmo caminho a maior varejista dos EUA, a Macy’s, cuja divida ultrapassa US$ 3,5 bilhões. É um indicador econômico muito mais certeiro que o índice PMI, pois mostra o que está acontecendo no momento.
Outro indicador muito preciso, é o número de pedidos de auxílio-desemprego, que aponta para a situação dos trabalhadores. Na segunda semana de julho esses pedidos totalizaram 1,3 milhões. O Departamento do Trabalho (correspondente ao ex-Ministério do Trabalho) informou que o desemprego no país está em 11,9%. Há uma forte correlação entre desemprego e avanço da epidemia do covid-19. Nos estados com crescimento dos casos de coronavírus, aumenta também o desemprego. Outro indicador importante é a atividade manufatureira na região da Filadélfia, “que é um sinal de vital importância para a economia industrial dos EUA, desacelerou em julho, segundo dados do Banco Central dos EUA (Fed) (G1, 16/7/2020).
Desde a década de 1980, a desigualdade cresce de forma continuada nos EUA, a classe média diminui, os super ricos ficam mais ricos, os pobres vão para a miséria. Dados de 2018 mostram que 140 milhões de norte-americanos estão abaixo da linha de pobreza, isso representa 43% da população do país que ainda é considerado como símbolo de riqueza (Exame, 1/10/2018). De lá para cá isso só aumentou e a crise atual ainda vai provocar um rápido aumento dessa pobreza, especialmente entre os negros e os latinos (Folha de S.Paulo, 28/4/2020).
O que tem mantido a economia norte-americana em situação confortável na crise, até o momento, é o crescimento do crédito barato, que alimenta o mercado imobiliário e até mesmo o consumo de varejo. Mas é uma situação muito parecida com a crise de 2008, com manutenção artificial de crédito fácil e barato, mas que cria uma bolha que não se sustenta e quando estoura, provoca uma queda acentuada em vários setores.
A artificialidade que o crédito barato cria, mostra a fragilidade dos dados econômicos referentes a consumo. É muito perigoso se fiar nesses indicadores formados a partir de opiniões de gerentes e financistas em momentos de crise, assim como é frágil considerar dados esparsos, não conectados, em momentos de forte pressão eleitoral, como ocorre agora nos EUA, quando o governo procura de toda forma manipular informação e fazer crer na recuperação rápida como faz Donald Trump (MercadoNews, 18/6/2020). Para a mesma empresa que administra o índice PMI, a saída da crise não será rápida, “provavelmente a maioria das economias demorará de dois a três anos para voltar aos níveis de produção que tinha antes da epidemia” (El País, 13/4/2020).