O fascínio da esquerda por campanhas eleitorais tem levado os partidos que se reivindicam das lutas dos movimentos populares, do movimento sindical, a optarem por abandonar o método tradicional de mobilização nas ruas.
A tônica é jogar todas as fichas na “disputa eleitoral”, apresentando o circo eleitoral como o espaço preferencial para a atuação da esquerda. Sendo que com o golpe de Estado de 2016, o regime político está se fechando, a participação popular nas eleições é cada vez diminuta.
Além disso, a busca ensandecida por eleger seus candidatos em eleições manipuladas pela direita pela esquerda revela uma profunda ilusão com o sistema eleitoral do regime político.
No artigo publicado no sítio Brasil 247 “Ainda não é, infelizmente, a hora das ruas”, assinado por Hélio Doyle é explicitamente defendido o abandono das ruas para a defesa de que não só não é possível impulsionar eventos de ruas, como seria preferível no atual contexto privilegiar a “mobilização eleitoral”, devido inclusive às restrições por conta da Covid-19
“Não é a hora para isso, porém. Ainda estamos enfrentando a pandemia e é necessário manter o distanciamento social e não incentivar aglomerações de qualquer tipo. Ao convocar manifestações de massa, estamos nos igualando aos bolsonaristas, que negam os riscos da covid-19, rejeitam as normas sanitárias e desprezam a saúde e a vida da população.”
Neste caso, o pretexto de “não se igualar ao bolsonarismo” é o álibi perfeito para não sair às ruas e se acomodar no jogo eleitoral. Neste aspecto, é ainda indicado que a participação nas eleições deveria ter como eixo fundamental a integração na política da frente ampla, retomando o discurso da “ciência” para o abandono das ruas e aliança com a direita “democrática”.
“Por isso, muitos que gostariam de se manifestar nas ruas não atenderão à convocação. Não é responsável chamar as pessoas às ruas, como faz Bolsonaro, mesmo ressalvando os que estão nos grupos de risco. Os democratas devem estar ao lado da ciência e da saúde.”
A política de depositar todas as esperanças nas eleições não é somente um problema de meio de ação, mas relaciona-se com uma política de subordinação à burguesia, como fica claro neste trecho do artigo.
“Bolsonaro e seu projeto fascista serão derrotados com uma ampla participação da população e uma forte aliança política, não com a ação de grupos radicalizados. “
Essa política é uma política de derrotas, uma vez que coloca os trabalhadores a reboque da direita.
Em relação aos argumentos sobre a impossibilidade do Fora Bolsonaro, devido a inexistência de uma maioria parlamentar favorável a saída do governo, é interessante recuperar a experiência da queda do governo Collor, na ocasião não havia o número de votos suficientes para para o impeachment antes da mobilização popular. Entretanto, através das mobilizações, especialmente dos estudantes, os parlamentares foram tencionados a aprovar a saída de Colllor.