Artigo publicado pela escritora Eliane Brum no sítio GGN procura uma explicação psicológica para a atual situação política brasileira e mundial. Segundo ela, o “Brasil está nas mãos deste perverso [Bolsonaro], que reúne ao seu redor outros perversos e alguns oportunistas” e conclui que “os brasileiros têm adoecido. Adoecimento mental, que resulta também em queda de imunidade e sintomas físicos, já que o corpo é um só.”
Está muito longe de ser uma novidade a tentativa de explicar o fascismo como um fenômeno psicológico. Durante a ascensão de Mussolini na Itália e de Hitler na Alemanha, amplos setores da esquerda e da academia procuravam explicações psicológicas. Tais tentativas de entender um fenômeno político foram uma das causas para a derrota diante do fascismo. Enquanto buscavam uma explicação por fora da política, os fascistas ocupavam as ruas e os governos com seus métodos de violência e intimidação.
Mesmo tendo sido demonstradas erradas e catastróficas, as explicações de um sem número de sociólogos e historiadores posteriores insistiam e ainda insistem nas análise individuais ou psicológicas, mesmo que algumas dessas análise procurem falar em psicologia de massas. Mas tanto num caso como no outro fica oculto o fundo econômico, social e político do fascismo.
Sobre o comportamento da esquerda na Itália e na Alemanha diante do fascismo, Trótski afirmou que a socialdemocracia alemã repetiu “com mais força, tudo o que os reformistas italianos fizeram”. “Os italianos explicavam o fascismo como uma psicose do pós-guerra; os socialdemocratas alemãs veem nele uma psicose de ‘Versalhes’ ou uma psicose da crise. Nos dois exemplos, os reformistas fecharam os olhos para o caráter orgânico do fascismo como um movimento de massas resultante do colapso do capitalismo” (do livro Fascismo, o que é e como combatê-lo). As esquerda e os intelectuais de hoje correm apressados para cometer os mesmos erros catastróficos.
Se existe uma “doença social” causada pelo colapso econômico que resulta em uma situação política degenerada, ela só pode ser combatida atacando justamente suas causas, por meio em primeiro lugar da luta política. Para isso, é preciso uma análise correta do fascismo. O fascismo é uma resposta da burguesia ligada aos setores financeiros a uma enorme crise do sistema capitalista para esmagar as entidades dos trabalhadores e realizar seus ataques. Não tem nada de “histerismo social” ou “cultura do ódio”.
Ele é um fenômeno típico da nossa atual época do capitalismo decadente, não porque o povo está doente, mas porque os capitalistas têm dificuldades cada vez maiores de sustentar-se no poder. E por isso, lançam mão de uma política de força para, através da violência, impor sua política. A violência não se combate com discurso ou choros ou análise acadêmicas. Política se combate com política, violência se combate com violência. Pode ser difícil essa constatação para quem analisa os fenômenos sociais distantes deles, mas é a dura realidade.
Não se trata portanto da “perversão” de Bolsonaro, mas de uma luta de vida ou morte entre a classe operária e a burguesia diante da crise do sistema capitalista.