A vergonhosa frente formada entre vários setores de esquerda e da extrema-direita tomou as primeiras páginas dos jornais essa semana. A direita, aproveitando a decadência moral e intelectual da esquerda pequeno-burguesa, correu por fora dos trilhos e subiu no bonde que tinha, antes, como destino final a derrubada dos golpistas. Mas, afinal, qual seria o interesse da direita em derrubar um governo que eles mesmos colocaram no poder? A experiência política das manifestações de junho de 2013 parece não ter sido suficiente para boa parte da esquerda. De uma forma ou de outra, convém destacar que esse erro político só leva a um resultado: o analfabetismo político é o caminho para o fracasso.
Já dizia o poeta e dramaturgo Karl Kraus, “o malandro só existe porque existe o otário”. Não é preciso muito esforço para concluir quem desempenha cada papel na política nacional. O vexame do “superpedido de impeachment” dessa quarta-feira, 30, deu luz aos personagens da galhofa nacional. Já havia, no entanto, o ensaio da peça. Esquerda e direita ensaiavam diálogos nos bastidores do teatro nacional. Em realidade, o caminho está traçado e as ruas tomam um ar cada vez mais vermelho. A população inclina-se cada vez mais à esquerda e o regime político sofre cada vez mais pressão das massas.
Mas para os reformistas e pequeno-burgueses a realidade nunca é concreta, eles se baseiam na abstração de uma frente imaginária, sem lastro real. Para os apologistas do stalinismo, os sicofantas identitários e toda a pseudointelectualidade seria conveniente abraçar os responsáveis pelo status quo para sairmos da lama em que os nossos inimigos nos colocaram. E assim o fizeram. Na pantomima exibida em rede nacional, o figurino, antes vermelho, passara a ser subordinado às cores do inimigo, e sob as cores do verde-amarelo, a direita entrou em cena com a ajuda da esquerda pequeno-burguesa. Joice Hasselmann (PSL), Alexandre Frota (PSDB) e MBL marcharam de mãos dadas com os “talentosos” estrategistas da esquerda pequeno-burguesa. Dessa vez, o pseudorradicalismo do PCB, PCdoB, PSOL, UP e PSTU deu lugar ao fisiologismo da direita.
O debate acerca da frente ampla tomou novas proporções. A direita, com total apoio desses partidos citados, declarou que estará presente nas manifestações de rua e que as cores devem ser o verde-amarelo. Nesse ponto, porém, há uma infeliz coincidência. Os partidos da esquerda já vêm abandonando o vermelho há tempos. Foi só a burguesia declarar sua preferência que as cores da bandeira nacional entraram na moda. Mais uma vez, o golpe está dado. A confusão está instaurada e os responsáveis podem dar as mãos. A direita e boa parte da esquerda cavalgam no mesmo cavalo e, por mais aberrante que possa parecer, planejam marchar juntos em um desfile cordial sobre o cadáver de mais de meio milhão de brasileiros. Essa é a conclusão que se pode tirar da execrável participação da esquerda na frente com a extrema-direita.
Lançada a cartada do verde e amarelo, a direita se prepara para que ela possa controlar os atos e transformá-los em manobra eleitoral. Como a direita não tem base popular, é preciso utilizar de algum alicerce para a construção da sua política. Assim, ela se infiltra nos atos e impede que a política se desenvolva no sentido de uma ruptura com o regime golpista. A ideia dos golpistas é forjar uma alternativa a Bolsonaro que assuma o compromisso do golpe e alije por completo as forças de esquerda. O teatro grotesco de quarta-feira foi o prenúncio de mais um golpe contra toda a esquerda de conjunto.
A direita, visivelmente, está utilizando a esquerda pequeno-burguesa como um andaime eleitoral. Assim que conquistarem o topo, derrubarão todo o alicerce construído pela luta popular e avançarão com a política neoliberal que colocou o país novamente no mapa da fome. É preciso combater essa vergonhosa capitulação da esquerda e assumir o vermelho como cor da luta contra o golpe e os golpistas que agora se passam como arrependidos mas que não valem o chão que pisam.
Usar as cores da direita é confundir a população, é abrir caminho para a derrota e a desmoralização. A política é baseada no curso real da luta de classes. Nesse momento, os inimigos vestem as cores da bandeira nacional enquanto o conjunto dos oprimidos traja o vermelho – a cor da luta da classe operária. É fundamental que se delimite os campos em luta para que as massas tomem consciência do movimento político. A educação das massas passa, invariavelmente, pela experiência política que ela acumula no decorrer da luta de classes. O verde-amarelo nunca foi a cor da classe trabalhadora; essa política traiçoeira só pode servir aos golpistas. Esse teatro, caso não seja desmanchado, pode virar uma tragédia e colocar em risco todo o avanço do movimento popular contra os golpistas. A esquerda vai de vermelho nos atos!