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Esquerda pequeno-burguesa

Não à frente ampla eleitoral

Em artigo publicado no Portal Vermelho, Dani Balbi defende que a esquerda se une a segmentos do regime político golpista.

A crise em que todos os regimes políticos no mundo estão imersos coloca, diante da burguesia, a necessidade de fomentar a política da frente ampla como uma carta na manga, de maneira a submeter as organizações populares sob a sua batuta. Na esquerda brasileira, o partido que tem defendido de maneira mais tenaz e pública a formação de uma frente ampla é o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que, além de elaborar teses mirabolantes sobre a tal frente, já deu várias demonstrações práticas do que seria a aliança com setores da burguesia – para ficar em apenas um exemplo, podemos citar o apoio à candidatura do vigarista Rodrigo Maia para a presidência da Câmara dos Deputados.

No dia 11 de novembro, o Portal Vermelho, vinculado ao PCdoB, publicou mais um artigo defendendo a formação da frente ampla. O texto, que é assinado por Dani Balbi, tem como título Lula Livre: e agora? e se propõe a explicar qual que deveria ser a política da esquerda para a próxima etapa da luta política.

Crise de representação

Segundo Balbi, a esquerda estaria passando por uma crise de representação:

A crise política não pode ser entendida apenas como resultado da crise econômica ou da crise no seio do governo; ela é, e muito, decorrente da crise de representação, das formas de mobilização e da capilaridade dos movimentos sociais e de categorias hoje. Ela é uma crise que correu em paralelo à disputa entre direita e esquerda e se adiantou a ela: ela é a crise no seio da esquerda brasileira que tem a sua maior expressão na fundação do PSOL, além de outros fatores e resultados de grande impacto. As crises internas das esquerdas nacionais é, aliás, uma realidade de toda a complexa organização dos movimentos de resistência ao capital, desde sempre e, em maior ou menor grau, contribuem e encerram as nossas disputas com a direita.

Essa avaliação, no entanto, não é correta. A crise política no país é um resultado da luta de classes, que é a razão de todas as demais crises. O regime político brasileiro, bem como o de todos os países do mundo, se encontra em crise há muito tempo porque as instituições da direita têm sido, cada vez mais, rejeitadas pela população, uma vez que são representantes diretos da política neoliberal. A polícia, que reprime o povo todo dia para garantir que os trabalhadores não se rebelem contra a direita, o Judiciário, que intervém quase sempre para garantir os privilégios da burguesia sobre os trabalhadores, e, naturalmente, o próprio Congresso Nacional, que é eleito em em meio às manipulações imundas da direita para entregar o país aos capitalistas, são exemplos disso.

Na medida em que a direita vai perdendo o controle da população, só há dois caminhos a serem seguidos: ceder às reivindicações populares, de modo a não colocar o regime sob risco de queda, ou impor, por meio da força, os seus interesses. Como o capitalismo se encontra em uma crise econômica muito profunda, o primeiro caminho não é uma opção para a direita: o estabelecimento de governos com características ditatoriais é a única opção. Isso, no entanto, não resolve a crise política – na verdade, a torna mais intensa. A tendência é, portanto, que a crise política se intensifique em todo o mundo.

Evocar uma mitológica crise de representação para justificar os motivos pelos quais a esquerda não conseguiu aproveitar a crise do regime para tomar o poder não é suficiente, nem tampouco correto. As dificuldades que a esquerda têm encontrado não são motivadas pela falta de uma representação, mas sim pela falta de uma direção que tenha condições de orientar de maneira clara o movimento popular e operário. Em geral, todo os entraves que a esquerda têm enfrentado nos últimos anos decorre disso, e as crises no interior de suas organizações são resultado justamente da disputa entre a pressão das bases, que querem partir para uma luta efetiva, e das direções, que têm optado por um caminho de adaptação ao regime político.

Uma justificativa para a política de colaboração

Se considerarmos como verdadeiro o mito da crise de representação, seríamos forçados a concluir que é necessário uma nova representação para a esquerda ou que a falta de representação é uma fraqueza de deve ser compensada de alguma maneira.

Em relação a uma nova representação, já explicamos anteriormente que o impasse da esquerda não está na forma de representar a população, mas sim na política da qual as suas direções têm lançado mão. Isso, inclusive, está decretado desde 1938 pelo revolucionário Leon Trótski, que afirmou que a crise da humanidade reside na crise da direção do proletariado.

Balbi, no entanto, opta pela segunda conclusão, apresentando a seguinte solução para a falta de representação:

Isso, pra terminar por hora, nos coloca o desafio de compreender o que é urgente, fundamental, amplo e popular; o que é inegociável para a esquerda e, a partir de então, vencer a pauta dentre a população que não aderiu, nem se convenceu ou se sensibilizou com o nosso projeto. Entender que todas as formas e canais precisam funcionar e que um núcleo de unidade precisa ser encontrado e movimentado.

O que Dani Balbi propõe aqui é, além de impossível, completamente desastroso para a esquerda: é a descrição da frente ampla. Segundo propõe, o papel da esquerda não deveria ser o de enfrentar a burguesia, mas sim o de encontrar aqueles pontos que seriam crucias, inegociáveis e encontrar os setores que estariam dispostos a defender esses pontos. Uma frente, portanto, não de luta, que tem como objetivo mobilizar os trabalhadores contra seus algozes, mas sim uma frente do tipo parlamentar, eleitoreira, que precisa apenas de um pretexto qualquer para se estabelecer.

Sob a justificativa de que determinado rol de princípios seriam essenciais, a frente proposta por Dani Balbi poderia ser formada com qualquer organização. Há não muito tempo, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) expressou bem o que seria esse princípio. Ao dizer que “Lula Livre não unifica”, Freixo escancarou a farsa da chamada frente ampla, que jamais seria possível tendo como base uma reivindicação de fato relevante para os trabalhadores.

Em último caso, se os tais princípios estabelecidos pelo conjunto da esquerda fossem verdadeiramente os eixos mais urgentes para a classe operária, essa frente seria uma fraude – isto é, a burguesia se mostraria disposta a entrar nela apenas para controlar o movimento. É necessário lembrar, conforme dito anteriormente, que a crise econômica impõe que a burguesia, que deu o golpe de Estado em 2016, prendeu o ex-presidente Lula e colocou Bolsonaro no poder, não esteja disposta a ceder em absolutamente nada.

A frente proposta por Balbi não daria certo sob nenhuma hipótese. Ou melhor, apenas em uma hipótese: se o objetivo for, ao invés de levar os trabalhadores a condições dignas de vida, eleger meia dupla de parlamentares da esquerda que manterão, assim, suas carreiras no regime político. A frente ampla seria, portanto, uma grande derrota para a esquerda e para os trabalhadores, em troca de alguns cargos costurados por meio de alianças com setores como o DEM e o PSDB.

O caminho da vitória para os trabalhadores está muito distante da frente proposta por Dani Balbi e pelo PCdoB. O caminho da vitória é a mobilização popular dos trabalhadores contra a burguesia golpista, o caminho que passa obrigatoriamente pela organização independente dos trabalhadores para alcançarem as suas reivindicações. Nenhuma aliança com os golpistas!

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