Cinicamente, a direita golpista tradicional, o chamado “centrão”, assim como os principais órgãos de imprensa da burguesia, procuraram atacar o ato de Bolsonaro chamado para o dia 15 como sendo um “atentado contra a democracia”. Não há dúvidas que o ato seja um ataque aos direitos democráticos da população, atacados há muito pelos golpistas. No entanto, não é esse aspecto o central na análise do ato.
Em primeiro lugar é preciso ter claro que o ato é a expressão da crise política entre os setores bolsonaristas – e o próprio Bolsonaro – e a direita golpista tradicional, o “centrão”. Essa crise vem se aprofundando tendo como pano de fundo geral a crise econômica que vem se agravando no País. Essa contradição entre o governo Bolsonaro e o “centrão”, embora seja real, não é uma oposição fundamental. O “centrão” procura forçar Bolsonaro e tomar determinadas medidas, principalmente no que diz respeito à política econômica, ao mesmo tempo que o governo precisa manter sua política demagógica com sua base de extrema-direita.
Tendo isso em vista, é preciso analisar o ato convocado pelas organizações da esquerda como um contra ato à manifestação do dia 15.
Em primeiro lugar, é um erro o chamado para o dia 18 de março. A política correta seria convocar um ato no mesmo dia que servisse como oposição real ao ato bolsonarista e colocasse os setores populares em choque com a extrema-direita.
O mais significativo, no entanto, é que a esquerda está convocando o ato não como um ato contra Bolsonaro mas “em defesa da democracia”. Exatamente a política que os setores do “centrão” vêm defendendo cinicamente na imprensa para atacar o ato bolsonarista.
Essa palavra de ordem pela “democracia” não é mera adaptação da esquerda à burguesia. Trata-se de uma política que faz parte da política de frente ampla defendida pela maior parte da esquerda.
Esses setores da esquerda viram no ato uma oportunidade de colocar em prática a política de frente ampla. Uma oportunidade de atrelar o movimento a essa política de aliança com a direita golpista, o chamado “centrão”
A depender da esquerda pequeno-burguesa, ato do dia 18 não será um ato pelo fora Bolsonaro, mas um ato pela “aliança pela democracia”.
Sobre isso, é preciso explicar uma vez mais que o chamado “centrão” é a representação da maior parte da burguesia. Por isso, os partidos que representam o centrão, PSDB DEM, PMDB, são tão ou mais perigosos do que o próprio bolsonarismo. Nunca é demais lembrar que Bolsonaro só é presidente porque contou com o apoio desses setores nas eleições fraudulentas e porque foi o “centrão” o responsável pelo golpe de Estado que colocou na rua as hordas bolsonaristas. Em uma palavra, o “centrão” é o principal bloco golpista, o bloco bolsonarista é secundário em relação aos demais setores da burguesia.
Fazer qualquer tipo de aliança com esse setor é empurrar a população, os movimentos populares e os ativistas para uma grande armadilha política. Com a justificativa de se livrar de Bolsonaro, na realidade seria um reforço do bolsonarismo e da extrema-direita.
A luta contra o fascismo só pode se dar de maneira independente da burguesia, sua principal impulsionadora. Sem essa independência, não apenas será impossível derrotar o fascismo e a extrema-direita bolsonarista como ele se fortalecerá.
É preciso participar dos atos do dia 18 com uma política independente. É preciso levar as palavras de ordem pelo fora Bolsonaro e todos os golpistas, pois esse é o desejo das amplas massas do povo, como ficou mais do que demonstrado no carnaval. A festa mais popular do País foi um gigantesco ato pelo fora Bolsonaro. Não é possível ignorar esse fato, embora boa parte da esquerda pequeno-burguesa procure ignorar para levar adiante sua política de frente ampla.
