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Futebol brasileiro sob ataque

Nada de drible: jogador brasileiro é enquadrado no futebol europeu

Envolto na camisa-de-força da "tática" do futebol europeu, o atacante Vinicius Jr., ex-Flamengo, tem sido pressionado a deixar de lado a sua principal característica: o drible

Uma das principais revelações do futebol brasileiro nos últimos anos, o atacante Vinicius Jr. foi vendido em 2017 para o Real Madrid, da Espanha, pela quantia de 45 milhões de euros (R$ 206,6 milhões), no que representou a segunda maior venda da história do futebol brasileiro, atrás apenas da venda de Neymar para o Barcelona. À época, o jogador contava apenas com 16 anos de idade e não havia completado senão a sua segunda partida no time profissional do Flamengo, clube que o revelou.

Chegando no meio do ano de 2018 à Espanha, o jogador, sobretudo por conta da pouca idade, participou num primeiro momento dos jogos do Real Madrid Castilla, uma espécie de Real Madrid B, usado para testar e dar rodagem aos jogadores das suas categorias de base. Nos jogos pelo Castilla, que disputava a terceira divisão B da Espanha, o brasileiro rapidamente conseguiu demonstrar que seu lugar era no time principal: além de ser fisicamente mais forte e mais rápido do que os jovens jogadores espanhóis, Vinicius Jr. era também tecnicamente muito superior à média dos atletas e dispunha de um repertório de dribles e jogadas que lhe garantia uma vantagem desproporcional nos jogos. O único empecilho à entrada do jogador no time principal era o treinador espanhol Julen Lopetegui, que se recusava a dar uma chance para o brasileiro. Mas Lopetegui não durou muito no cargo, vítima dos resultados ruins do seu início de trabalho, e foi substituído, de forma interina, justamente pelo então treinador de Vinicius Jr. no Castilla: o argentino Santiago Solari.

Com Solari na equipe de cima, Vinicius Jr. passou a ganhar mais oportunidades, e não demorou muito para que o brasileiro assumisse lugar de destaque no time. O Real Madrid, naquele momento, havia perdido o seu principal atacante, Cristiano Ronaldo, e necessitava de alguém que tirasse o time da mesmice em que se encontrava. O jovem atacante aproveitou o vácuo que existia na equipe e, com seu jogo ousado, agressivo, veloz, com seus dribles e jogadas individuais, foi a peça que permitiu dar alguns momentos de vida e brilho à equipe durante a temporada. O Real Madrid não ganhou nenhuma competição, mas o brasileiro terminou a temporada em alta, afinal, com apenas 18 anos, havia sido o principal responsável pela melhora do time ao longo do ano.

O Real Madrid, contudo, virou a temporada sob nova direção. Saiu Solari e retornou Zinedine Zidane, treinador que dirigira a equipe no período 2016-2018. Através da imprensa espanhola, logo começaram a circular boatos de que o treinador francês não era um grande entusiasta do futebol do brasileiro. Para Zidane, conforme a imprensa pontuava, Vinicius seria ainda muito jovem e precisaria evoluir coletiva e taticamente. À medida que Zidane desenvolvia o seu trabalho, porém, ficava claro que os boatos não eram só boatos: o brasileiro passava cada vez menos minutos em campo e tinha cada vez menos oportunidades para pôr o seu jogo em prática.

A chegada de Zidane ao comando do time forçou o jogador a se adaptar à “filosofia” do treinador. O resultado disso é que, na atual temporada, o jogador não é nem sombra do que foi na temporada passada. Os dribles, as jogadas individuais, as arrancadas em direção ao gol, as jogadas ousadas e de efeito foram substituídos pelos passes curtos, pela recomposição defensiva e pela marcação.

O site “WhoScored?”, especializado em estatísticas de futebol, dá a medida do tamanho da regressão por que passou o atacante. As estatísticas apontam que o jogador brasileiro foi o líder em dribles do elenco na temporada passada, com média de 2,3 por partida, enquanto que, na atual temporada, ele ocupa apenas a oitava colocação, com média de 1 drible por jogo. O tolhimento da individualidade do atacante brasileiro tem sido tão grande que, hoje, ele possui uma média de dribles inferior à de jogadores que passam longe de terem qualquer destaque nesse fundamento, como é o caso do atacante espanhol Lucas Vázquez, este sim um jogador puramente “tático”, e do volante brasileiro Casemiro, ambos com média de 1,2 dribles por partida.

Não é segredo que Zidane, como treinador, foi bastante influenciado pela “escola italiana” de futebol, uma escola cuja marca reside, em especial, na rigidez tática e na prioridade defensiva. O francês, além de ter sido dirigido por vários treinadores italianos (Marcello Lippi, Fabio Capello etc.) durante sua carreira como jogador, foi auxiliar técnico de Carlo Ancelotti, quando este dirigia o Real Madrid. A ortodoxia tática italiana, como é sabido, é praticamente a antítese do “futebol-arte” brasileiro. Aplicada a ferro e fogo, e sem anestesia, sobre um jogador jovem, originário de um país onde o futebol provém da mesma matriz do samba, do carnaval, da capoeira etc., mas que busca se consolidar num local com outra cultura futebolística, tal ortodoxia termina por aniquilar as principais virtudes do jogador. Não é à toa que, a respeito de Vinicius Jr. e suas últimas apresentações, o jornal madrilenho Marca tenha comentado: “seu brilho e sua alegria se apagaram”.

O jovem Vinicius Jr. é um representante típico do futebol brasileiro. O atacante carioca, natural de São Gonçalo, pertence à tradicional linhagem de atacantes brasileiros que se diferenciam pela irreverência, pela ousadia, pela criatividade, pelo improviso. Uma linhagem de jogadores que, diga-se, inexiste na história do futebol europeu em geral, e do italiano em particular. É preciso entender que o cerceamento europeu ao futebol apresentado pelo jogador brasileiro não é um simples caso individual e isolado. Não é a primeira vez que os traços únicos e singulares do futebol brasileiro, que são manifestações da cultura popular brasileira, se chocam com as imposições típicas da cultura europeia. Podemos dizer, mais propriamente, que se trata de um episódio particular da batalha secular entre a cultura de um país oprimido e a cultura de um país imperialista.

A luta entre os países oprimidos e os países abarca todos os aspectos da vida social e se manifesta até nos acontecimentos que, aparentemente, nada tem ver com essa luta geral. Um jovem jogador de futebol, nascido num país pobre e atrasado, como o Brasil, vai até os campos da Europa rica e desenvolvida, e, uma vez lá, é pressionado e forçado a reprimir suas próprias tendências e inclinações, desenvolvidas no seu país de origem, e já testadas e aprovadas no plano internacional (vide as cinco Copas do Mundo conquistadas pelo Brasil), em benefício das tendências e inclinações desenvolvidas no Velho Continente. Aniquilando suas próprias características, seu estilo, sua forma de jogar, sua forma de compreender o jogo, o jogador terminar por ser aniquilado.

A nossa torcida vai para que Vinicius Jr. ganhe essa batalha, não sucumba às imposições do imperialismo europeu e reafirme o seu futebol, o futebol brasileiro.

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