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Chico Buarque e Portugal

Música e política: a obra de Chico Buarque sob o olhar dos portugueses

O documentário "Meu Caro Amigo Chico" mostra como foi influente a música de Chico Buarque para a geração de músicos portugueses pós Revolução dos Cravos.

Em 21 de março de 2019, Chico Buarque foi anunciado como o vencedor do Prêmio Camões de Literatura após uma reunião do júri realizada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O Prêmio Camões é o mais importante prêmio da língua portuguesa. Foi instituído em 1988 pelos governos português e brasileiro, mas recompensa também autores da língua portuguesa de países como Angola, São Tome e Principe, Moçambique, Guiné Bissau e Timor Oriental. A cada ano um escritor lusófono é consagrado pelo conjunto de sua obra.

Devido à pandemia do COVID-19 a entrega do prêmio, que seria realizada em 25 de abril deste ano, foi cancelada. Chico Buarque gravou um vídeo declarando: “vai aqui a minha saudação aos amigos portugueses pelo 25 de abril”, fazendo uma referência ao dia da Revolução de Cravos, que em 1974 derrubou o regime fascista do Estado Novo, que durou de 1926 a 1974.

“Infelizmente, não estou aí, não haverá entrega de prêmios, nem descerei com vocês a avenida. Mas esta tarde, deixarei na janela cravos vermelhos e cantarei em alto e bom som ‘Grândola Vila Morena’, de Zeca Afonso”. Chico deveria participar do tradicional Dia da Liberdade, o maior ato do ano em Portugal, que comemora o fim do fascismo e a conquista da democracia.

O evento se notabilizou pelo fato do presidente golpista Bolsonaro se recusar a assinar o diploma que será entregue a Chico Buarque. Chico é o 13º autor brasileiro a ser premiado. Nesta seleta lista estão nomes como Jorge Amado, Raduan Nassar e José Saramago. No ano anterior o prêmio foi entregue a Germano Almeida, natural de Cabo Verde.

Documentário Meu Caro Amigo Chico

Por outro lado, em uma nota muito mais feliz, Chico Buarque foi objeto, em 2012, de um documentário da cineasta portuguesa Joana Barra Vaz, “Meu Caro Amigo Chico”. Este documentário está em streaming gratuito no site da diretora como forma de celebração do Premio Camões a Chico Buarque.
Ele pode ser visto até o dia 1º de maio no seguinte endereço:

Meu Caro Amigo Chico


“Tanto Mar”

Em 1974 Chico Buarque compôs uma música, “Tanto Mar”, que foi incluída no LP “Chico Buarque & Maria Bethânia”. Só que a canção teve sua letra vetada pela censura controlada pela ditadura militar. Desse modo a música saiu no disco brasileiro apenas em sua versão instrumental.

Em Portugal a história foi diferente, lá a música foi lançada em sua versão original, que tinha a seguinte letra:

“Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente alguma flor
No teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera pá
Cá estou doente
Manda urgentemente algum cheirinho
De alecrim”

A música era uma celebração da Revolução dos Cravos, um assunto tabu para a ditadura brasileira. Em 1978 Chico regravou a música com uma letra revisada, parte do seu LP de nome “Chico Buarque”. Nessa versão revisada, no clima de ressaca da revolução, se traduz algum desencanto com o rumo dos acontecimentos pós-revolução, mas também esperança:

“Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim”

O documentário “Meu Caro Amigo Chico” foi estruturado como uma carta resposta à canção “Tanto Mar”. Lá artistas portugueses respondem como vai a vida do outro lado do Atlântico e falando sobre a influência da música de Chico que afetou a música de lá. O filme inclui depoimentos de Chico sobre a Revolução dos Cravos e trechos de uma performance sua de “Tanto Mar”.

O filme se iniciou com uma pesquisa de Joana Barra Vaz sobre os pontos que conectavam a música de Chico Buarque e Portugal. Isso levou a autora a reunir depoimentos de vários músicos portugueses que discorrem sobre a história dos dois países, sua música e a luta pela liberdade, especialmente instigados pelo verso da versão de 1978 (“Esqueceram uma semente/Nalgum canto do jardim”).

E muitas dessas sementes são colhidas no documentário. O cantor J.P. Simões expressou sua admiração por Chico Buarque quando escreveu a sua “Ópera do Falhado”, inspirado na “Ópera do Malandro” de Chico. O cantor de fado Camané incluiu várias músicas do autor em seu espetáculo “Outras Canções”. Vários outros artistas falam da influência de Chico como Manuel Cruz e integrantes da banda de rock Ornatos Violeta.

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