Como sempre, a corda do corte de gastos vai arrebentar para o lado mais fragilizado. Na reforma da previdência a redução da diferença (em anos) que as mulheres levavam para se aposentar em relação a idade masculina, será reduzida de 5 anos a menos de trabalho, para apenas 3. Essa medida é pautada na lógica falaciosa de “equiparar os gêneros perante a lei”. Isso é um engodo pois, na prática, a mulher é bem desfavorecida no mercado de trabalho em relação ao sexo masculino. Além da realidade ainda presente da jornada dupla feminina (trabalho doméstico e trabalho fora de casa), as mulheres recebem salários menores para funções iguais a homens, são preteridas na escolha de cargos de confiança (chefia, gerencia, entre outros) e são as primeiras a serem demitidas nas “reduções de quadro” empresariais. Tudo isso resulta nas disparidades salariais medias. Enquanto a media salarial masculina é de R$2380,00, a feminina cai para R$1836,00. Fora isso, apenas 48,5% das mulheres estão empregadas (enquanto, para os homens, esse numero sobe para 75%).
Tudo isso indica, mais uma vez, que a luta feminina deve se focar na base econômica da sociedade: é a estrutura capitalista e classista que sustenta a sua exploração diária.
Sobre o tema, fala Abella, especialista em direito previdenciário e cofundador do portal Previdenciarista: “As mulheres se aposentam mais cedo como uma forma de ‘compensação’, levando em consideração a maior dificuldade de obtenção de trabalho formal e também porque trabalham mais que os homens, já que elas agregam o trabalho doméstico ao emprego remunerado. E por mais que a última reforma da Previdência seja antiga e considerada ‘ultrapassada’, a jornada dupla das mulheres brasileiras continua acontecendo”, afirma Abella. “Não basta apenas equipararmos homens e mulheres perante uma mesma regra quando estes materialmente no plano da realidade ainda são diferentes”, completa.