“Porque ele jogou fora o vírus, porque tenho 85 anos e tenho uma doença imunológica”, disse Mujica em relação ao coronavírus. E foi assim que ele se despediu do Senado, renunciando à sua cadeira.
Tanto Mujica quanto Julio María Sanguinetti, que também são ex-presidentes do Uruguai, renunciaram ao Senado. Isso aconteceu na sessão da terça-feira, extraordinariamente, em meio a aplausos e lágrimas.
Mujica, que vinha exercendo seu mandato no Senado desde outubro de 2019, e com término previsto para 2025, para em 2020 quando renuncia, mas trazendo na bagagem a presidência de 2015 a 2018, o senado de 2000 e 2005 e de 2015 a 2018, além de guerrilheiro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, e 15 anos de prisão nas costas por isso.
No ano passado, chamou a atenção uma declaração que deu sobre a Venezuela à Rádio Universal, ao afirmar que o governo da Venezuela seria uma “ditadura”. Disse ele: “é uma ditadura, sim. Com essa declaração ele mostrou um alinhamento direto com o imperialismo, cujo objetivo é derrubar Maduro e tomar o petróleo.
Posições como essa tirada por Mujica contra a Venezuela, é que o tornam político de uma esquerda débil e mais ao centro, de colaboração com a direita, o que agrada a imprensa burguesa. Diferente dele, Nicolás Maduro é tratado como um ditador, Lula e de Cristina Kirchner, como corruptos, e também Evo e Rafael Correia.
Mujica se afasta do cenário político quando Uruguai tem no governo a presidência de Lacalle Pou, que é eleito por uma frente de coalizão entre direita e extrema-direita, que abriu espaço para o fascismo, como é o caso do partido chamado Cabildo Abierto (CA), com características fascistas, composto por militares que formaram uma das piores ditaduras militares da América Latina.
Atualmente, a Frente Ampla venceu no último domingo a eleição para a prefeitura da capital Montevidéu, e conquistando o sétimo mandato na cidade. Mas, como acontece no Brasil, a esquerda custa a reagir, e ainda guarda a ilusão de que, para mudar a política e barrar o crescimento da extrema-direita, em vez de mobilizações de ruas e a organização da classe trabalhadora para a luta, se entrega às eleições e promessas vazias e manobras parlamentares que não mudam nada, e de nada adiante para fortalecimento da esquerda combativa e revolucionária.
Definitivamente, trata-se de um momento ímpar na história da política do Uruguai, quando a esquerda e a classe trabalhadora, derrotada pela frente ampla, vê a extrema-direita ganhar força no país, e empurrá-la morro abaixo. Sem dúvida, um momento que, em vez de pendurar as chuteiras, todo esforço na luta que se trava contra o avanço fascista vai ser pouco para evitar o pior.