Em constante ameaça pela ação de grupos ligados aos madeireiros, os índios Pataxós – habitantes da Terra Indígena Barra Velha, onde se localiza o Parque Nacional do Monte Pascoal, no sul da Bahia – realizaram uma vigília entre os dias 21 e 22 de fevereiro, na Aldeia do Pé do Monte.
O ato foi convocado para denunciar a exploração predatória dos madeireiros, que vem devastando o território e prejudicando o turismo no parque, que por sua vez, constitui uma importante fonte de renda para a comunidade. Com sua tradicional inércia interessada, o governo federal, denunciam os indígenas, assiste a tudo sem fazer nada . Várias representações solicitando fiscalização do Território Indígena foram feitas junto ao Ministério Público sem que o pedido fosse atendido. Segundo um dos caciques, a última operação de fiscalização ocorrida no parque foi há pelo menos 3 anos.
Diante da vista grossa em relação à agressão contra seu território, os indígenas decidiram fechar a guarita principal da entrada do parque e fazer rondas noturnas para impedir a entrada e saída de caminhões das madeireiras. Ainda assim, alertam eles, existem outros acessos possíveis, não tão bons quanto a estrada principal do parque mas de qualquer forma, acessíveis. Por isso, os caciques esperam apoio da justiça e demais órgãos do Estado para fazer a fiscalização do território e no combate a ação das madeireiras.
É preciso aplaudir a iniciativa dos pataxós de convocarem mobilizações e rondas noturnas para proteger seu território mas as ilusões quanto o caráter do Estado precisam ser desfeitas o quanto antes. Acreditar que Ricardo Sales e Bolsonaro irão mover uma palha que seja no sentido de promover a segurança de qualquer um em conflito com latifundiários e madeireiros, é uma fantasia que pode resultar num suicídio.
Recentemente, em Mato Grosso do Sul, grupos indígenas solicitaram apoio da Força Nacional de Bolsonaro em meio a um conflito contra latifundiários locais, que ao chegarem, se uniram aos jagunços dos fazendeiros e abriram fogo contra os índios.
Em 2019, no Maranhão, as autoridades públicas foram mais sutis, mas também só se mexeram para acabar a milícia dos Guardiões da Floresta, um grupo dedicado a autodefesa de indígenas que também enfrentavam latifundiários e terminaram desarticulados sob a desculpa de que o governo de Dino estava protegendo vítimas de violações dos direitos humanos. No Rio Grande do Sul, de maneira similar, o poder público só se interessou por disputas entre latifundiários e indígenas quando os últimos organizaram uma milícia própria para expulsar os invasores. Muitos outros exemplos poderiam ser levantados para lembrar que confiar nas autoridades golpistas é a pior política a ser levada em frente. A melhor, atestada pela história, é envolver os povos habitantes da Terra Indígena Barra Velha na organização de comitês de autodefesa, para que os próprios atingidos se armem e defendam o território que é seu.