O grupo boliviano ligado ao Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) no Brasil publicou artigo analisando a situação na Bolívia, e a relação entre as classes sociais e o golpe de Estado.
Intitulado “Bolívia: entre o golpe de Estado e a resistência popular”, o artigo, embora procure se colocar contrário ao golpe e à direita golpista, não consegue deixar de cair na vala comum que grande parte da esquerda pequeno-burguesa se encontra quando procura analisar os golpes de Estado e a relação de forças entre o nacionalismo burguês e a direita pró-imperialista.
Primeiro, segundo o grupo boliviano, as manifestações originadas após as eleições teriam um caráter semi espontâneo e até mesmo seria relativamente popular. Segundo o grupo boliviano da LOR-CI
Segundo o grupo da LOR-CI
“Se o 20 de outubro iniciou-se como um movimento semiespontâneo das classes médias em defesa do voto cidadão diante do que consideravam como uma ‘escandalosa fraude’ atribuída a Morales e ao MAS para impedir uma segunda volta podia deixa-lo fora do palácio diante de seu rival de centro-direita Carlos Mesa, em poucas horas e dias o movimento foi se radicalizando em suas demandas e seus métodos de luta incorporando diversos setores sociais atacados pelo regime de Morales em seus quase 14 anos de governo, o que permitiu que o movimento cívico pudesse encobrir seu profundo caráter reacionário, racista e clerical com um manto de popularidade”.
Segundo as palvras do MRT boliviano as classes médias que saíram às ruas o fizeram de maneira “semiespontânea” pois realmente estavam imbuídas em denunciar a “fraude de Evo Morales e do MAS”. Mais ainda, segundo o grupo da LOR-CI, a insatisfação diante do governo Morales seria tão grande que setores da população acabaram aderindo às mobilizações o que acabou servindo como “cobertura” popular para os atos golpistas.
Nada poderia ser mais falso. O artigo, que tem a pretensão de analisar todo o processo da luta entra as classes durante esses anos de governo nacionalista na Bolívia, acaba ignorando o mais óbvio desse processo golpista: o fato de que o imperialismo introduziu uma crise artificial no País, aos moldes do que foi feito no Brasil.
Se existe algum “descontentamento” com o governo Evo e com o MAS, esse fato é completamente secundário diante da atuação do imperialismo que impulsionou manifestações artificiais, procurando apresentar como “espontâneo e popular” para justificar o golpe.
Se o imperialismo, através da OEA, e a direita não tivessem levantado a farsa da fraude eleitoral nada teria acontecido. Não haveria golpe e Evo estaria se preparando para assumir mais um mandato.
Por fim, a LOR-CI considera a hipótese de o golpe ser triunfante com a participação dos trabalhadores, o que mostra que o grupo acredita mesmo que o povo e os trabalhadores – ou para sermos justos parte dele – estariam apoiando o golpe. Isso mostra a ilusão da esquerda pequeno-burguesa no golpe. O artigo afirma que:
“Se o golpe conseguir se estabilizar devido à participação de diversos setores de trabalhadores nele, ao papel da burocracia sindical e à política conciliadora do MAS com os golpistas, o certo é que a brecha social e racial voltou-se a abrir de maneira profunda”