No site Vermelho, ligado ao PCdoB, o artigo no estilo água com açúcar intitulado “Movimento Estamos Juntos: a onda de esperança se formou”, de autoria de Carolina Kotscho, roteirista e presidente da Abra (Associação Brasileira de Autores Roteiristas), apresenta uma versão idílica e completamente fantasiosa das origens e objetivos do “movimento Estamos juntos”.
O artigo construído pela roteirista é notadamente uma peça de ficção, procurando apresentar “valores” e “ objetivos” em linguagem bem ao gosto da classe média despolitizada das redes sociais, mas sem nenhum conteúdo prático.
Dessa forma, nesse roteiro de matinê, o “movimento Estamos juntos” surgiu “ espontaneamente” para combater o “discurso do ódio e defender nossas vidas e a nossa democracia”:
O velho truque do apartidarismo, tão ao gosto da direita e do próprio PCdoB no movimento estudantil, é apresentado como uma das características do “movimento espontâneo”, isso apesar dos políticos ligados aos partidos tradicionais da burguesia, bem como os próprios políticos da esquerda oportunista, como os deputados do PCdoB e até o chefe histórico do PSDB, seu presidente de honra, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, serem membros do “movimento”.
Mais adiante, a articulista resolveu ir para o “combate” e declara que para combater o “ódio” o Estamos Juntos propõe
“Jogamos amor e flores no ventilador, e uma onda de esperança se formou.“
E depois de afirmar que é um movimento sem partido, proclama que está “aberto a todos”, inclusive aos partidos e agentes políticos”
O que a autora não esclarece é que “todos” os partidos e agentes políticos incluem os políticos que deram o golpe de 2016 e que inclusive apoiaram e elegeram Bolsonaro. Recomenda-se inclusive a presença da “pluralidade” de posições, juntando tanto a esquerda como a direita para a busca do bem comum.
Como o ex-presidente Lula assinalou, não existe uma única reivindicação vinculada à luta dos trabalhadores e do povo. Tudo é apresentado em nome da “humanidade” da “justiça” e do “amor”. A suposta defesa da “democracia” através da união é completamente vazia e visa tão somente esconder que se trata de movimento organizado pela direita golpista para reciclar-se politicamente. Nem mesmo a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” está presente no manifesto do Estamos Juntos.
A adesão do PCdoB, de Guilherme Boulos (PSOL) e de Fernando Haddad (PT) a essa verdadeira geleia política não é fruto de engano ou autoengano, trata-se de uma picaretagem política, uma tentativa de traficar na esquerda a política de frente ampla, ou seja, colocar os trabalhadores a reboque de um setor da direita.