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Crise histórica do capitalismo

Mortes, desemprego, queda nas bolsas: o capitalismo entra em depressão

Insolvência da dívida, conflito distributivo acentuado, peste, ameaças de guerras, rapinagem entre nações imperialistas. Caos econômico apresenta sinais de crise terminal.

O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens.

Nestes termos horripilantes, Karl Marx descreve uma contradição enorme do sistema econômico orientado pelo capitalismo, o que é muito importante para entendermos com clareza a Depressão de 2020, assumindo desde já a terminologia adotada por ideólogos do capitalismo, entre os quais, Nouriel Roubini (que a esta altura, dispensa comentários) e Kristalina Georgieva, diretora do FMI. A compreensão deste fenômeno esclarece por que os governos burgueses todos decidiram, deliberadamente, deixar uma parcela da população de seus países exposta à ameaça mortal do vírus corona enquanto decidia o que fazer.

Em primeiro lugar, há que se destacar a crise de 2008. Conforme previsto por Roubini, em artigo de 2006, o endividamento massivo, e sem lastro, gerou uma reação em cadeia de falências que criaram a maior crise do capitalismo desde 1929. Chamados de “títulos podres”, o mercado financeiro negociava papéis referentes a dívidas hipotecárias das famílias americanas cujos pagamentos dependiam de uma expansão econômica, que por sua vez, estava demasiadamente atrelada a capacidade de continuar contraindo crédito (e quitando), uma situação em que dinheiro fabricava dinheiro, e com esse dinheiro “fabricado”, se pagava o dinheiro emprestado. Isto obviamente não poderia terminar bem. Com a lição de 1929 em mente, a burocracia governamental dos regimes burgueses tratou de abrir os cofres públicos numa série de resgates históricos. Só nos Estados Unidos, cerca de 850 bilhões de dólares foram utilizados a título de injeção de liquidez para evitar a falência geral do sistema. Isso adiou mas não resolveu o problema.

As finanças foram sanadas mas elas eram apenas a camada visível do problema. Atacada como se fosse algo pontual, um raio em céu azul, o processo de financeirização da economia é uma marca do capitalismo desde o pós-guerra, se desenvolveu como uma saída da burguesia para levar adiante a política keynesiana em seus países sem produzir uma explosão inflacionária, transferindo essa parte do custo para as nações atrasadas através de uma brutal e crescente expropriação da periferia capitalista, que desde então, passam a conviver com um profundo endividamento externo e uma inflação tão elevada quanto constante.

Os limites dessa política produzirão a série do choques nos anos 1970 e deixarão o capitalismo sem outra alternativa a não ser apelar ao neoliberalismo, reproduzindo essa política de ataques também aos seus mercados internos enquanto turbina a expropriação das periferias. Não é intenção deste artigo detalhar o desenvolvimento desta política, basta entendermos que o processo de endividamento iniciado na periferia capitalista chega ao centro do sistema e, entre indas e vindas, cresceu ao ponto da insolvência, o que levou à crise de 2008. Se o profundo endividamento, muito superior ao crescimento econômico evidenciou a falta de lastro para o capitalismo em 2008, nos 11 anos que se passaram, a economia mundial saiu de um Produto Global Bruto (PGB) de US$63,43 trilhões para US$86,6, crescimento nominal (desconsiderado as perdas da inflação) de 36,52%. No mesmo período, a dívida global saltou de US$117,2 trilhões para US$253 trilhões, um crescimento de 115,87%. Com isso, a dívida, que já era maior do que a riqueza em mais de 84%, passou a superar o produto social global em 192,14%.

A hora mais sombria da humanidade”

Se um crescimento incapaz suavizar os efeitos do gigantesco endividamento já era ruim, a ponto do imperialismo precisar recorrer a um regime de ataques tão violentos que obrigaram a adoção do fascismo em países como Brasil e Índia, e mais uma série de outros na América Latina e Ásia, uma abrupta paralisação da atividade econômica nesse momento, em condições normais, já seria uma verdadeira catástrofe. Foi exatamente neste contexto, de apocalipse capitalista, que surgiu a mais violenta pandemia viral de tipo Influenza desde a gripe espanhola, há mais de 100 anos atrás. Espalhando-se com uma velocidade impressionante, o Covid-19, causado pelo vírus corona, rapidamente pôs a China em quarentena, paralisando a economia chinesa e, de quebra, toda uma cadeia produtiva global dependente das importações de produtos fabricados no país asiático. Mesmo sob a quarentena, o vírus logo ultrapassou as fronteiras chinesas, chegando a outros países e continentes, como a Europa.

Refletindo esse pânico, a bolsa de valores de Nova Iorque saiu de 29.551 pontos em 12 de fevereiro para 18.592 em 23 de março, o nível mais baixo desde novembro de 2016, queda superior a 37% em um intervalo de apenas 43 dias. Diversas outras praças financeiras teriam resultados tão ruins quanto a bolsa americana, muitos entraram em uma situação ainda mais dramática. Temendo que uma paralisia severa da economia tirasse o lastro produtivo sob o qual se baseia a especulação, a solução adotada pelo imperialismo foi deixar que os trabalhadores se contagiassem e morressem, até que uma solução menos custosa aparecesse. Com 1,05 milhão de contagiados em menos de 120 dias e quase 57 mil casos de morte em decorrência da pandemia, o vírus corona levou 2,8 bilhões de pessoas, quase 40% da população mundial, a viverem sob regime de quarentena, o resultado da política precisou ser revisto.

Espalhando-se com uma velocidade impressionante, levando os sistemas de saúde mais robustos do mundo ao colapso, ocasionado situações dignas da peste, como a convivência forçada com cadáveres na Itália e a concentração de urubus sobre um hospital equatoriano, a pandemia do vírus corona caiu como uma bomba nuclear sobre um mundo já convulsionado pelo conflito distributivo, próprio da deterioração generalizada da economia global.

Ideólogos do capitalismo vem anunciando que, por enquanto, a previsão para retração do PIB nos EUA e União Europeia está em -3,3% e 4,2% respectivamente, com perspectiva de redução da economia global em -2%. Em um intervalo de apenas 14 dias, 4% da força de trabalho americana foi obrigada a recorrer ao assistencialismo em virtude da decomposição do sistema produtivo. Juntos a mais de 10 milhões que se inscreveram em programas de auxílio a desempregados, mais de 700 mil trabalhadores perderam seus empregos no mês de março, elevando a taxa de desocupação de 3,5% para 4,4% em um único mês. O anúncio de um pacote de resgate histórico no valor de US$2,2 trilhões animou as bolsas de valores do mundo mas logo a realidade de uma economia baseada mais na especulação do que na produção se impôs, levando a mais uma sequência de quedas que obrigaram Donald Trump a anunciar um novo pacote de estímulo da ordem de mais US$2 trilhões, este voltado à infraestrutura e desta vez, sem grandes comemorações.

Assim como a livre concorrência, o keynisianismo é uma etapa superada. Se nos anos 1970 as economias capitalistas desenvolvidas já não conseguiam suportar o investimento estatal sem produzir uma crise inflacionária, 50 anos depois e sob um pesado endividamento global, a realidade é dramaticamente pior para esse tipo de experiência. A frase de Marx é relevante para lembrarmos a magnitude da perda de valor do trabalho, a mais importante mercadoria do capitalismo justamente por ser a que multiplica o capital. Descartar o trabalho para manter uma bolha especulativa é próprio da completa desagregação de um sistema profundamente decadente, que por isso mesmo, tende a ser extremamente destrutivo.

Muitos fatores apontam para uma crise com características terminais do sistema capitalista. Se isso vai ser concretizado ou não, depende das direções políticas da classe. Num contexto de depressão econômica aliada a uma profunda desgregação social, só o que falta aos trabalhadores é uma vanguarda revolucionária.

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