Os povos indígenas brasileiros, constantes alvos da grilagem e destruição de suas terras, de ordens de despejo, intimidações, assassinatos e diversos outros crimes encomendados por ruralistas e pelo Judiciário golpista e executados por pistoleiros ou pelas forças policiais, vivem em constante ameaça da vida de seus integrantes e, em consequência, da sobrevivência de seu patrimônio histórico e cultural. A disposição do atual governo em minar todo tipo de suporte estatal às condições de vida dos indígenas, em particular ao seu acesso a serviços de saúde, tem causado a sua dizimação face à atual pandemia da Covid-19, e com a morte dos anciãos de alguns povos, a destruição de enormes parcelas da história, cultura e linguagem de um número ainda maior de povos, um conhecimento em grande medida transmitido oralmente.
Este resultado se manifestou recentemente através da morte pela Covid-19 de diversos anciãos, destacadamente de Bernaldina José Pedro, da etnia Macuxi, e de Aritana Yawalapiti, descendente dos povos Yawalapiti e Kamayurá, falante de dez línguas de pelo menos três troncos linguísticos e um dos líderes mais respeitados do Território Indígena do Xingu. A perda destas e de muitas outras lideranças indígenas, que se encontravam em processo de transmissão de sua cultura e idioma para as gerações mais jovens, agrava a ameaça da debandada de diversos povos e da perda do seu conhecimento acumulado.
Em sua luta pela auto-preservação, os povos indígenas desde sempre foram um obstáculo ao desenvolvimento e sobrevida da sociedade capitalista. Na atual fase de decomposição desta sociedade, se intensifica a rapina da sua classe dominante – a burguesia dos países imperialistas – sobre todos os indivíduos e nações oprimidas. Às manifestações concretas deste fenômeno, como a chamada política neoliberal, se juntam os cada vez mais selvagens ataques aos povos indígenas, cuja existência contribui para dificultar o livre acesso dos capitalistas à enorme riqueza de recursos naturais presente em diversas reservas indígenas.
A continuidade da existência das sociedades pré-capitalistas na atual fase terminal do capitalismo, no Brasil e nos diversos outros países em que ocorre, constitui um acidente histórico, tendo sido elas exterminadas ou integradas às novas sociedades. A luta pelas suas condições de vida, preservação da cultura, hábitos e costumes, organização e auto-defesa como fatores de desestabilização do capitalismo deve, portanto, ser encampada por todos os revolucionários que lutam pela transformação da ordem social burguesa.