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Lenda baiana do samba

Morreu Riachão, precursor do samba na Bahia e no Brasil

O cantor e compositor Riachão, um dos maiores nomes da velha guarda do samba, faleceu aos 98 anos em sua cidade natal, Salvador.

O precursor do samba na Bahia, o cantor e compositor Riachão, faleceu na madrugada de 30 de março em Salvador aos 98 anos de idade.

Riachão teve muitas de suas composições gravadas pelos grandes nomes da música brasileira. “Vá Morar Com o Diabo” foi regravada por Cássia Eller e “Cada Macaco no Seu Galho” foi gravada e lançada em um compacto de 1972 por Gilberto Gil e Caetano Veloso. Essa música marcou a volta de Caetano e Gil ao país após um período de exílio em Londres. A letra era um recado aos militares: “o meu galho é na Bahia, xô, o seu é em outro lugar…”.

A gravação de “Cada Macaco no Seu Galho” por Riachão saiu em 1973 no LP “Samba da Bahia”, um disco dividido com os cantores Batatinha e Panela. Ele revisitou a música em seu último álbum, “Mundão de Ouro” de 2012, com o nome de “Chô Chuá (Cada Macaco no Seu Galho)” onde inclui as suas observações sobre aquele período desconcertante de ditadura e censura.

Nas ruas do Garcia em Salvador

Clementino Rodrigues ficou conhecido com o apelido de Riachão. Nasceu em Salvador em 14 de novembro de 1921 e se tornou um dos precursores do samba na Bahia e um dos nomes mais importantes do estilo, com um status equivalente ao de Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Cartola e outros da velha guarda. Ele nasceu na rua Língua de Vaca, no bairro de Garcia em Salvador

Riachão tinha um estilo muito peculiar de compor, com características de crônica. Nas suas letras irreverentes retrata o povo baiano de sua amada cidade de Salvador e seus personagens típicos como a baiana do acarajé, capoeiristas e os malandros de terno branco.

Seu apelido veio na adolescência. O termo riachão era usado pelos baianos para falar de gente de caráter difícil. Segundo ele mesmo em depoimento para o extinto jornal Diário de Notícias: “quando era menino eu gostava muito de brigar. Mal acabava uma peleja já estava eu disputando outra. E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: você é algum riachão que não se possa atravessar?”.

Desde os 9 anos de idade Riachão já cantava nas ruas do bairro de Garcia. Batucava em latas de água. Sua primeira composição surgiu aos 12 anos, um samba que dizia:”eu sei que sou moleque, eu sei / conheço o meu proceder / deixe o dia raiar que a minha turma / é boa para batucar.”

O sambista e os anos de rádio

Com 23 anos ingressou na Rádio Sociedade onde se juntou a um trio vocal que se apresentava no programa de auditório “Show Pindorama” da emissora de rádio Sociedade AM. No trio interpretava de serestas a toadas sertanejas. Ficou pouco tempo no trio porque queria se dedicar ao samba, seguindo para uma carreira solo. Já tinha, por essa época, constituído a sua imagem artística, uma figura que sempre usava anéis, lenços, boné e a indispensável toalha no pescoço.

Entre 1948 e 1959 compôs músicas como “A Morte do Motorista da Praça da Sé”, “A Tartaruga”, “Visita da Rainha Elisabeth” (por ocasião da visita da rainha a Bahia em 1968) e “Incêndio no Mercado Modelo”. Nos anos 60 virou ator e participou de filmes como ‘A Grande Feira” de Roberto Pires em 1961, “J.S. Brown, o Último Herói” de 1980 e “Pastores Da Noite” de Marcel Camus em 1972, este último baseado na obra de seu amigo Jorge Amado.

Nos anos 50 várias canções suas foram gravadas por Jackson do Pandeiro: “Meu Patrão”, “Saia” e “Judas Traidor”. Outros que gravaram suas composições foram Marinês (“Terra Santa”) e Eraldo Oliveira (“A Nega Não Quer Nada”).

Trabalhou na Rádio Sociedade da Bahia até 1971 onde cantou e apresentou programas. “Aí acabou o rádio, por causa da TV”, conta ele. “Aqueles artistas todos perderam seu espaço, muitos morreram apaixonados”. De lá conseguiu um emprego de contínuo no Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Desenbanco) por intermédio de Antonio Carlos Magalhães.

Foi com patrocínio do Desenbanco que lançou seu primeiro LP, “Sonho de Malandro” em 1973. Nesse disco se destaca a música “Eu Também Quero” onde relata o aparecimento do tíquete-refeição: “essa turma que trabalha muito cedo / vem a fome que faz medo / e faz a barriga roncar / vai no caixa compra tique / pega tique / leva o tique / dá o tique / para poder almoçar”. Este e outros discos posteriores vendem pouco e Riachão cai num ostracismo artístico, se apresentando apenas para plateias universitárias no Rio de Janeiro.

O primeiro CD

Em 2000 finalmente lançou o seu primeiro CD, a um mês de completar 80 anos de idade. “Humanenochum” contou com participações de Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Tom Zé, Dona Ivone Lara e Armandinho e trouxe alguns de seus grandes sucessos como “Vá Morar Com o Diabo”, “Pitada de Tabaco” e “Cada Macaco no Seu Galho”. Segundo Riachão o título quer dizer “homem humano que ama a mulher e não a maltrata”, uma homenagem a Dalva, companheira de 30 anos de convivência.

Em 2008 sofreu uma tragédia: Dalva, dois filhos, genro e cunhada morreram em um acidente de carro no interior do Rio de Janeiro. Outra perda irreparável foram a maioria das 500 músicas que calcula ter escrito nos anos 1930 e 1940 que se foram em “um incêndio pequenino lá na rádio”. Como muitas delas eram baseadas em improviso não ficaram em sua memória.

Apesar de sua produção incessante deixou uma pequena discografia de apenas sete álbuns: “Sonho De Malandro” (1973), “Samba Da Bahia” (1975, álbum dividido com Batatinha e Panela), “Sonho De Malandro” (1981), “Diplomacia” (1998), “Humanenochum” (2000), “Riachão” (2001) e “Mundão de Ouro” (2012).

O disco mais recente de Riachão, “Mundão de Ouro”, foi produzido pela cantora e produtora musical Vania Abreu. Esse disco incluiu a música “Meu Dia Vem Aí”, uma homenagem ao seu colega compositor Batatinha, falecido em 1997. Riachão gravou a música batucando uma caixinha de fósforos, marca registrada de Batatinha.

“Meu dia vem aí,
eu vou seguir
Para o mesmo lugar
Meu amigo já se foi
Eu me lembro que nós dois
Só vivia a cantar.
Quando eu morrer
Quero muitas flores
Quero muitas luzes, clareando a mim
Quando eu morrer
Que forem me levando
Quero meu povo cantando
Anunciando meu fim, meu fim”

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