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Aos 72 anos

Morre Moraes Moreira

O cantor e compositor foi um dos fundadores dos Novos Baianos, uma das mais influentes bandas da música brasileira com sua mistura de ritmos, do rock ao samba e baião.

O cantor baiano Moraes Moreira morreu nesta manhã de segunda feira (dia 13) aos 72 anos de idade. O corpo de Moraes foi encontrado hoje no apartamento em que morava sozinho no Rio de Janeiro, no bairro da Gávea. A assessoria de Moraes confirmou que ele sofreu um infarto agudo do miocárdio.

Ele deixou dois filhos, Maria Cecília e Davi Moraes, também músicos e dois netos, Alice e Francisco.

Antônio Carlos Moraes Pires nasceu em Ituaçu, localizado na Chapada Diamantina da Bahia em 8 de julho de 1947. Com 12 anos de idade começou a tocar a sanfona de doze baixos, em festas de São João de Ituaçu. Em seguida aprendeu a tocar o violão. Em 1966 se mudou para Salvador para prestar o vestibular para medicina, mas desistiu da ideia depois de conhecer Tom Zé, que se tornou seu professor de violão e o responsável por apresentá-lo a seu futuro companheiro de banda, Luiz Galvão. Tom Zé disse que Moraes tinha “um interesse voraz, uma verdadeira gulodice de conhecimento” e que “em quatro meses eu acabei de ensinar tudo o que eu sabia e ele já tocava melhor do que eu.”

Novos Baianos

Após esse encontro com Tom Zé formou um grupo com outros amigos: Luiz Galvão, que era agrônomo formado; Paulinho Boca de Cantor, já um cantor experiente na Orquestra Avanço, popular nas noites de Salvador; a niteroiense Baby Consuelo e o seu marido, o guitarrista Pepeu Gomes. Juntos eles se tornaram os Novos Baianos. Boa parte das músicas dos Novos Baianos eram composições de Moraes Moreira e de Galvão. Os integrantes do grupo viviam comunalmente em um sítio em Jacarepaguá, apelidado de “Cantinho do Vovô”, onde tocavam, criavam e tomavam muitas drogas em plena ditadura militar.

Entre 1970 e 1974 os Novos Baianos lançaram cinco discos notáveis, repletos de uma exuberante brasilidade, inicialmente como um desenvolvimento da tropicália (o primeiro LP, “É Ferro Na Boneca” de 1970) e depois enveredando pela exploração de gêneros genuinamente brasileiros como o choro, a bossa nova, samba e o baião. O auge do grupo foi com o LP “Acabou Chorare”, de 1972, eleito pela revista Rolling Stone como o maior disco brasileiro de todos os tempos. Alguns dos clássicos presentes nesse álbum incluem “Preta Pretinha”, “A Menina Dança” e “Besta é Tu”.

Carreira Solo

Em 1975 Moraes deixou o grupo para seguir carreira solo. Ele declarou que fez isso por causa de seus filhos Davi e Ciça que moravam com ele e a mulher Marília no sítio da banda: “como é que aqueles meninos iam se alimentar se os caras tomavam o leite deles no mingau da larica?”, referencia ao uso constante de drogas pelos integrantes do grupo.

Na carreira solo Moraes continuou um compositor extremamente prolífico, lançando mais de 20 discos, além de vários trabalhos em colaboração com Pepeu Gomes e também com o Trio Elétrico Dodô & Osmar.

Teve várias músicas que se tornaram clássicos do carnaval baiano como “Pombo Correio (Double Morse)”, “Vassourinha Elétrica” e “Bloco do Prazer”.

Alguns dos discos importantes que lançou foram “O Brasil Tem Concerto” (1994), influenciado pela música erudita; “50 Carnavais” (1997), que comemora o carnaval e também os seus 50 anos de idade; “De Repente” (2005), uma mistura de hip hop e repente nordestino e “Bahião com H” (2000), dedicado ao baião. Seu último trabalho lançado foi “Ser Tão”, em dupla com seu filho Davi.

Polemica

Em novembro de 2019 estreou o espetáculo “Novos Baianos”, onde 13 atores contavam a história da banda, com direção musical de Pedro Baby (filho de Baby Consuelo) e Davi Moraes (filho de Moraes). Esse musical causou uma desavença de Moraes com Baby Consuelo, hoje em dia a evangélica Baby do Brasil. Baby queria que o espetáculo ignorasse o uso de drogas pelo grupo. Moraes afirmou que “Baby queria que o espetáculo fosse evangélico. Que não dissesse que fumou maconha, que tomou ácido, que fez tudo. Assim os Novos Baianos não seriam revolucionários. João Gilberto deve estar se revirando na sepultura. Porque o nosso grupo fumou, sim, tomou ácido, sim, fez músicas maravilhosas em estado de fumar maconha, sim. A gente fazia música inclusive pra ela. As canções dela que fizeram sucesso como “A Menina Dança”, “Tinindo, Trincando”, “Os Pingos da Chuva” e tantas outras, foram feitas na onda, porque naquele tempo a onda era essa”.

Moraes esteve ativo até o final de sua vida. No carnaval deste ano cantou no Pelourinho, mesmo já aparentando estar debilitado. Desde março ele estava recolhido à sua casa por causa do coronavirus, mas ainda compondo e escrevendo. Uma de suas últimas obras era um cordel, que falava do covid-19, mas também de Marielle Franco.

“Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo

 Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito

 

De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia

 

Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
Às vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido

 

Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta

 

Com tanta coisa inda cismo….
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia

 

As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres

 

O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo, nem idade

 

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