Aos 90 anos, ídolo da torcida do Fluminense, Escurinho deixou o mundo neste último sábado (12). O “flecha negra”, como ficou conhecido, foi um dos grandes nomes do clube carioca, jogou na equipe por 10 anos, atuando em 490 jogos e fazendo 111 gols neste período. Benedito Custódio Ferreira foi mais um negro que deixou sua marca no futebol, um dos nomes que marcam a superação no contexto racista do esporte.
Em 1949, Escurinho começou a atuar profissionalmente na equipe de sua cidade natal (Nova Lima/MG). No Villa Nova Atlético Clube foi campeão mineiro em 1951, sua atuação termina em 1954 quando vai para o Fluminense. No clube das Laranjeiras permaneceu no período compreendido entre os anos de 1954 e 1964, está na lista dos dez jogadores que mais fizeram gols sendo o quinto que mais jogou com a camisa do Flu.
O jogador do tricolor carioca foi chamado de “flecha negra” por sua grande velocidade, dizia-se que era tão veloz que muitas vezes deixava a bola para trás tendo que voltar para buscá-la. Atuava como ponta esquerda, uma espécie de atacante que busca abrir a defesa adversária pelos lados do campo (neste caso lateral esquerda) e que avança rapidamente nos contra-ataques pelo flanco do campo.
No Fluminense, conquistou dois campeonatos cariocas em 1959, no qual fez o segundo gol contra o Madureira que decretou o título, e de 1964; também dois torneios Rio-São Paulo em 1957 e 1960. O ídolo do Fluminense foi fonte de inspiração para outros grandes jogadores que também se tornaram ídolos do clube carioca como Assis, o falecido zagueiro negro, que conquistou quatro campeonatos carioca e um brasileiro, era declaradamente admirador de Escurinho.
Na seleção do Brasil, marcou gol e conquistou as taças Bernardo O’Higgins e Oswaldo Cruz (ambas em 1955). Depois de jogar pela equipe do Rio de Janeiro, foi para Colômbia onde jogou pelo Atlético Junior de Barranquila de 1965 a 1966. De volta ao Brasil, jogou na grande Portuguesa (SP) entre os anos de 1967 e 1969. Em 1970, encerrou a carreira no futebol pela equipe Bonsucesso (RJ).
Escurinho trabalhou como taxista até 2006 no Rio de Janeiro. Portador de alzheimer, se encontrava internado e sua morte aconteceu em decorrência da falência múltipla de seus órgãos.
Cada homem negro que entra para história do futebol, em especial, de clubes como Fluminense representa uma vitória sobre o preconceito racial dos seus dirigentes, que, assim como os do Flamengo e Botafogo, depois da conquista do Campeonato Carioca de 1923 pelo Vasco da Gama com um time de negros, abandonaram a Liga Metropolitana e fundaram a Associação Metropolitana que condicionava a participação da nova equipe campeã à dispensa de 12 jogadores negros.
A superioridade técnica dos jogadores negros prevaleceu à vontade das direções racistas, a realidade objetiva se impôs de maneira incontestável. Os clubes não puderam resistir em ter no elenco de suas equipes àqueles que revolucionariam o maior esporte de massas do mundo e fariam do futebol brasileiro o maior do planeta.