Morre aos 87 anos de idade José Eduardo Homem de Mello, mais conhecido como Zuza Homem de Mello, um dos maiores pesquisadores musicais e culturais do país. Zuza morreu em seu apartamento, no bairro Pinheiros, em São Paulo, nesta madrugada de domingo (04/10). Ercília Lobo, sua companheira por 35 anos, noticiou o acontecido em seu instagram, “Ele morreu dormindo, de infarto, após termos brindado na noite de ontem todos os projetos bem sucedidos”.
Na noite de sábado (03/10), Zuza comemorava a biografia de João Gilberto que havia terminado de escrever. Autor de uma vasta obra, suas histórias perpassam entre Chiquinha Gonzaga, os gigantes Gilberto Gil, Chico e Caetano e pousam em Renato Russo e Cazuza – Copacabana, a trajetória do samba-canção (1929-1958), A era dos festivais, uma parábola, e A Canção no Tempo, em co-autoria com o historiador Jairo Severiano são alguns exemplos de sua rica imensidão cultural.
Nascido em São Paulo, começou sua vida como jornalista em 1956, no ano seguinte mudou-se para os Estados Unidos, onde foi estudar musicologia no conservatório Juilliard School, em Nova York. A bossa nova e o jazz eram duas das suas grandes inspirações – assistiu de perto grandes apresentações de gênios do jazz como Duke Ellington e John Coltrane e chegou a presenciar a estreia de Ray Charles no Carnegie Hall. “O mais arrebatador do concerto de jazz no Carnegie Hall, em 29 de novembro de 1957, com a orquestra de Dizzy Gillespie, seguida por um jovem pouco conhecido, Ray Charles, pelo quarteto de Theolonious Monk, com John Coltrane, pelo quarteto de Zoot Sims, com Chat Baker, pelo trio de Sonny Rollings e com Billie Holiday ao final”, como relatou em seu livro Música com Z.
De volta ao Brasil acompanhou a bossa nova que começava a se estruturar; entrou na TV Record, onde ficou por dez anos. Lá ajudou na produção de programas como o Fino da Bossa, de Elis Regina e Jair Rodrigues. Promoveu e trabalhou em discos, shows e entrevistas de todos os grandes artistas da música brasileira. Atuou como crítico, participava de programas de rádio; e num dos seus últimos projetos, participou da série “Muito prazer, meu primeiro disco”, do Sesc São Paulo, atuando como curador.
O musicólogo se tornou referência no Brasil e no mundo exterior, muitas de suas histórias e contatos com outras gerações da música estão registrados em seu Instagram ou no Youtube, e outros tantos estão guardados numa biblioteca com mais de 10.000 Lps e CDs da qual se orgulhava muito.
Durante o período de quarentena, Zuza ainda estava produzindo e participando de lives e festivais virtuais. O trabalho, a aprendizagem e depois o ensino, marcaram grandiosa trajetória, Ercília e sua família registraram muito bem sua existência. “Zuza nos deixou em paz após viver uma vida plena”. Em um país onde nossa memória é facilmente desprezada, Zuza deixa seu toque impresso na história através da música, reconhecer o Brasil aos seus olhos é o melhor que podemos fazer em sua memória.