Em 18 de outubro de 2016, um dia antes da prisão de Eduardo Cunha (MDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados, o então juiz Sérgio Moro articulou com os procuradores da Lava Jato que não apreendessem os celulares do deputado, que guardavam conversas com parlamentares golpistas detentores do chamado foro privilegiado.
A revelação foi feita na última segunda-feira (12) pelo portal de notícias BuzzFeed, em parceria com o The Intercept Brasil, que teve acesso a inúmeras conversas pelo aplicativo Telegram entre procuradores e promotores da Lava Jato e Moro.
Na conversa de 18 de outubro de 2016, o procurador golpista Deltan Dallagnol fala para Moro que deveriam apreender os celulares de Cunha, o procedimento mais natural em operações da Polícia Federal. “Acho que não é uma boa”, responde Moro. Eles ainda realizaram uma reunião e, após ela, Dallagnol enviou nova mensagem ao “Mussolini de Maringá” informando que os procuradores concordaram em não apreender os celulares de Cunha.
Além da reportagem do BuzzFeed, em julho o Intercept publicou matéria em conjunto com a golpista Veja na qual Moro aparece como dificultador para que um documento registrando pagamentos do empresário Flávio David Barra a vários políticos não fosse registrado no sistema de processo eletrônico da Justiça Federal – o que ficaria disponível a todos os que têm acesso ao sistema.
No dia seguinte à conversa entre Moro e Dallagnol, Cunha foi preso em Brasília e perguntou aos agentes da PF se deveria entregar seus aparelhos, no que recebeu uma resposta negativa, ou seja, o órgão seguiu as recomendações de Moro e não apreendeu os celulares. Antes de que fosse preso, Cunha ligou para parlamentares vinculados a Moreira Franco, então ministro de Minas e Energia, e ao próprio presidente Michel Temer.
Essa ação de Moro é mais uma das reveladas pelo Intercept que comprovam como ele era o chefe da Lava Jato e comandava os procuradores e promotores, afastando-se completamente de seu papel como juiz, para interferir diretamente como parte envolvida nos casos.
Neste específico, Moro protegeu Cunha e os demais parlamentares ligados a ele, todos golpistas. O próprio Cunha, agente fundamental para a derrubada de Dilma Rousseff, sendo o principal articulador do impeachment. Tratou-se de um golpe, no qual a Câmara, o Senado e o Judiciário estiveram intimamente ligados, e cuja Operação Lava Jato foi primordial para seu sucesso. Em última instância, essa ação de Moro em conluio com os procuradores serviu para safar diversos políticos que participaram do golpe contra Dilma.
Ao mesmo tempo, as revelações do Intercept mostraram também que Moro agiu conjuntamente com a acusação para prender e manter na cadeia o ex-presidente Lula, algo absolutamente ilegal. Esses dois fatos evidenciam, novamente, o caráter totalmente político da Lava Jato e de todos os seus apoiadores, sendo uma gigantesca operação de perseguição política para implementar o golpe de Estado que derrubou o PT do governo e colocou Bolsonaro no poder para destruir os direitos da classe trabalhadora e entregar os recursos nacionais ao imperialismo – criador e promotor da Lava Jato.