A irresponsabilidade da campanha #FiqueEmCasa, levada adiante pela burguesia, fica cada vez mais clara. Enquanto muitas pessoas têm passado as últimas semanas em uma espécie de “retiro espiritual”, o povo pobre corre uma série de riscos fatais. Além da ameaça do coronavírus, existe a fome e o crescimento da violência doméstica. Não bastasse isso, há ainda o abandono dos estudantes moradores da periferia à própria sorte.
Tal fato foi bem retratado em matéria do jornalista Gabriel Saboia ao UOL notícias. Através da história dramática de estudantes como Luiz Menezes, morador da Favela da Maré (Rio de Janeiro), compõem-se o retrato preciso dos marginais tecnológicos. O jovem vestibulando não tem acesso à internet em casa e depende de Wi-Fi “emprestado” para poder baixar o conteúdo didático das aulas do cursinho pré-vestibular.
Além disso, o estudante engrossa as estatísticas dos insatisfeitos com a qualidade da internet. Relata intermitência que prejudica leituras e torna bastante difícil acompanhar video-aulas. Isso tudo, obviamente, causa desânimo no estudante, que busca ingressar, por meio do ENEM, no curso de Ciências Sociais em alguma universidade pública.
A crise social e sanitária desnudada pelo Coronavírus já existia no Brasil. Campeão mundial na desigualdade, o país é um celeiro de histórias vivas sobre o quanto é farsesca a ideia de uma ascensão individual meritocrática. As dificuldades materiais dos estudantes da periferia já eram catastróficas antes; agora, atingiram patamares muito piores.
O plano neoliberal de destruir os serviços públicos e, indiretamente, a soberania nacional, pode parecer algo distante para alguns grupos da esquerda pequeno-burguesa, que têm – ao menos parcialmente – a vida garantida. Contudo, cada canetada de maldade perpetrada contra o povo custa o sonho de milhares de seres-humanos.