Bolsonaro segue, sem maiores impedimentos, colocando em prática sua política de extrema-direita fundamentalista no país. Depois de minar a Fundação Nacional do Índio (Funai) com militares na gestão de diversas regionais, o mais recente absurdo do governo foi a nomeação do pastor evangélico Ricardo Lopes Dias para a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC). O setor é um dos mais importantes e sensíveis da Funai, responsável por monitorar 28 povos indígenas isolados e acompanhar os indícios de existência de outros 86.
Ex-missionário, Ricardo Lopes Dias é antropólogo ligado à organização norte-americana Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) onde atuou durante dez anos. Atualmente, é membro da Igreja Batista Fundamentalista Cristo é Vida, de Fortaleza, no Ceará.
O Ministério Público do Distrito Federal busca suspender a nomeação. Segundo o órgão, há conflito de interesses, incompatibilidade técnica, risco de retrocesso na política de não-contato da Funai e ainda risco de genocídio e etnocídio. Como base para a ação, está a ligação de Dias com a organização religiosa que chegou ao Brasil nos anos 1950 instalando igrejas em terras indígenas e promovendo a evangelização forçada desses povos.
Além do histórico na Missão Novas Tribos no país, também há, na nomeação do missionário, o interesse econômico em jogo. De acordo com o filho do presidente da MNTB, Edward M. Luz, a política para os índios isolados estaria afetando a economia da região, causando o “sofrimento dos produtores, agricultores”. Diante disso, ele diz que seria necessário realizar uma mudança na política da Funai para os índios isolados. Edward M. Luz, autor da afirmação, é conhecido como “antropólogo dos ruralistas” por sua atuação como consultor da Frente Parlamentar Agropecuária durante a CPI da Funai.
Com a entrega de mais um setor nas mãos dos religiosos amigos dos ruralistas, Bolsonaro coloca os povos isolados em risco e avança rapidamente com a destruição da Funai. Se o problema fosse somente a evangelização forçada desses indígenas já seria muito prejudicial, mas há o aspecto econômico da exploração das terras no centro da questão. Latifundiários, pecuaristas, madeireiros e mineradores estão de olho nas terras demarcadas e ocupadas pelos indígenas que representam um entrave na ampliação dos seus domínios e lucros.
Essa é a política dos bolsonaristas, entregar as riquezas para a exploração predatória de uma minoria capitalista passando por cima dos indígenas e quem mais se colocar contra sua política de morte. Para impedir que o projeto da extrema-direita avance ainda mais sobre os povos e seus territórios, a única solução de fato se encontra nas ruas com grandes mobilizações populares para exigir a derrubada do fascista Jair Bolsonaro e de todos os golpistas.