Nesta semana veio a público a existência de uma milícia paraestatal que atua em Brasília, sob o nome de “Patrulha de Deus – Força Celestial”. A milícia conta, segundo seus próprios números, com 120 colaboradores, mas um núcleo rígido de 40 pessoas, que atuam de forma organizada e sistemática em “plantões” que rondam Brasília na calada da noite para fazer “abordagens”. Essas abordagens se constituem em parar em praças onde se agrupam usuários de crack, e agir em bando de dezenas de pessoas vestidas com apetrechos militares, como coletes a prova de bala.
As “abordagens” feitas pela “Patrulha de Deus” são regulares, possuem data e horário para acontecer e fazem um trabalho de recrutamento sistemático, o que demonstra que a organização de tipo fascista possui uma organização relativamente consolidada e potencialmente muito perigosa. Não dá para ver, nos vídeos e fotos, que estão ainda armados, mas podemos prever que se não estão hoje, estarão logo mais. Simplesmente porque se existe uma organização que se espelha no aparato repressivo, uma hora ela estará armada como tal.
Feita a “abordagem” com orações e coerção, os usuários de drogas são levados à força por essa milícia para uma internação compulsória. Nos vídeos, gravados pela própria Patrulha, não há imagens de violência, mas já há ocorrências envolvendo uma coerção na base da força para internar os usuários, exatamente como uma força policial. Outra coisa que chama atenção é que essa milícia possui um CNPJ, isto é, é legalizada diante do Estado e pode ter ligações com os governos, além de não incomodar em nada a Polícia Militar oficializada, já que fazem pouco caso ao assunto. Afinal, a única diferença é que uma é uma milícia fascista oficial e outra não.
O grupo é liderado pelo pastor Gilmar Bezerra Campos e conta com uma hierarquia e treinamentos regulares de autodefesa. Mesmo que o líder do agrupamento diga que nunca replicou as técnicas em usuários de droga, é difícil acreditar, afinal… se não fossem usar, por que estariam treinando? Outra declaração estranha é de que Gilmar teria comprado quatro viaturas com “dinheiro do próprio bolso”, após vender uma pizzaria. O que é, no mínimo, uma grande farsa, já que a organização chama publicamente a pessoas físicas, organizações e empresários a financiar suas atividades.
Fica evidente que estamos diante de uma organização fascista que se organiza a luz do dia, mesmo que aja na calada da noite. É típico de organizações fascistas que no início de sua atividade ajam contra setores esmagados e mais oprimidos da sociedade, como nesse caso é a ação arbitrária contra os usuários. No entanto, na medida que crescem, recrutam e se organizam, se politizam mais e avançam seus ataques às organizações operárias da cidade e do campo. É urgente denunciar sistematicamente essa organização, que oferece um risco gigantesco a esquerda e as organizações do povo do DF, e esmagá-la com a mobilização dos trabalhadores.